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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Algumas Questões Sobre o Primeiro Capítulo do Livro: A Produção do Fracasso Escolar, Histórias de Submissão e Rebeldia da Autora: Maria Helena Souza Patto.

Questionário sobre o capítulo 1, intitulado: "Raízes Históricas das concepções sobre o fracasso escolar: O Triunfo de uma Classe e Sua Visão de Mundo", que é parte do livro de Maria Helena Souza Patto: "A produção do fracasso escolar Histórias de submissão e rebeldia".

01 - Como a Autora Aborda o Surgimento dos Pobres na Sociedade Moderna?

A autora na realiza, na “pág. 29” uma minuciosa explicação do período de transição entre a passagem das sociedades feudais para as sociedades capitalistas na Europa, sugerindo “esse evento” como um dos responsáveis pelo surgimento do que hoje popularmente chamamos de “pobres” a mesma, já na pág. 32, desenvolve sua tese contextualizando sua afirmação, diz: “os antigos artesãos e camponeses vão perdendo suas condições anteriores de produtores independentes e de agricultores que ocupam e cultivavam a Gleba, destituídos de seus instrumentos de produção de sua matéria prima e da terra para cultivar suas condições de vida tornaram-se insustentáveis”, Patto, afirma também que neste momento o acometimento de pestes e eventos climáticos, tornam o quadro ainda mais dramático, (...) São eles que vão agora integrar os grandes contingentes famintos que se acumularam nas cidades e que veio a se tornar um tipo de trabalhador ainda inédito na história da humanidadeo trabalhador assalariado, que vende no mercado de trabalho o único bem que lhe resta a energia de seus músculos e cérebro. São eles que vão formar o contingente dos trabalhadores da indústria e as populações pobres das cidades, submetidos a um regime e a um tipo de trabalho que lhes eram estranhos, mas, dos quais não podiam fugir, são eles que vão trabalhar nas máquinas e na indústria extrativa de sol a sol, em troca de salários aquém ou no limite fisiológico da sobrevivência.

02 – Como Patto Caracteriza o Trabalho Alienado?

A autora localiza as origens do Trabalho Alienado no momento em que o produtor começa a ser destituído dos meios de produção e começa a produzir para outrem. E ainda, quando os homens começam a dividir-se em proprietário exclusivo das máquinas e da matéria prima e trabalhadores que não as possuem. As relações de produção que assim se estabelecem fazem parte da própria natureza do modo de produção que começa a vigorar. Dando base a seu argumento a autora cita Marx: “No primeiro manuscrito Econômico e Filosófico, Marx (Em Fromm 1970), propõe-se a desvendar a verdadeira natureza desse trabalho, dessa forma de trabalho na qual:
*A - o Trabalhador se sente contrafeito na medida em que esta atividade não é voluntária, mas lhe é imposta, é trabalho forçado.
* B - O trabalho não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer outras necessidades.
* C – O Trabalho não é para si, mas, para outrem.
* D - O trabalhador não se pertence, mas sim a outra pessoa.
A autora continua, o Caráter Alienado desse processo de trabalho fica patente, segundo Marx, pelo fato de que sempre que possível ele é evitado, trabalhar nestas novas condições da indústria capitalista significa mais do que sacrificar-se, significa mortificar-se, de vida produtiva o trabalho reduz-se a meio para a satisfação da necessidade de manter a existência, esta identificação com a atividade vital é característica do animal que não distingue a atividade de si mesmo, ele é sua atividade. Já o homem faz de sua atividade vital um objeto de sua vontade econômica.

03 – Porque a Autora Afirma Que Houve “Desintegração de Uma Aliança Social” a partir da segunda metade do século XIX?

Pág 35: A autora interpreta a ruptura entre burguesia e proletariado como desintegração de uma aliança, a mesma explica que: Durante o século XVIII e nas primeiras décadas do século seguinte a burguesia foi porta voz do sonho humano de um mundo igualitário fraterno e livre. Com o passar do tempo o proletariado viu a sua reação começar á “ser expressada” através de formulações teóricas socialistas e os vários tipos de governo reformista que se sucediam tinham apenas o objetivo de defender os interesses da burguesia das pressões revolucionárias socialistas e monarquistas. A autora sugere aqui um abandono por parte da burguesia da luta por uma igualdade de condições social almejada pela classe trabalhadora, e continua, em meados do século XIX o sonho havia acabado para alguns setores mais conscientes do proletário e para seus intelectuais orgânicos. A ruptura entre burguesia e proletariado, porém não se daria exceto na Grã Bretanha, antes de 1848, todavia, segundo (Hobsbawm, 1982, p.139), em torno de 1830 um movimento socialista e proletário era visível na Grã-Bretanha e na frança; uma massa de trabalhadores pobres via nos reformadores liberais seus prováveis traidores e nos capitalistas seus inimigos seguros



04 – Quais as Relações entre o Ideário e o Positivismo?

O Ideário Iluminista convergia com as ideias do positivismo, uma vez que o positivismo defende que a ciência é a única forma de conhecimento verdadeiro. Patto afirma que o Ideário Iluminista se fortaleceu com o visível progresso ocorrido na produção e no comércio, a autora afirma ainda que essa ideologia encontrou maior receptividade e entusiasmo entre aqueles mais diretamente beneficiados pela nova ordem econômica e social em ascensão: Os círculos mercantis os financistas e os proprietários além dos administradores sociais e econômicos aliados a esse espírito científico.

05 – Patto Afirma que Houve Uma Contradição Básica no Século XIX. Que Contradição é Essa? E Como as Ciências Humanas Buscam Responder a Ela?

A autora explica na página 38 de seu texto que, o que ela chama de Contradição Básica no Século XIX, deu-se no momento em que a sociedade Burguesa atingiu seu apogeu, passando a segregar cada vez mais o trabalhador braçal e se tornando inflexível na admissão dos “que vêm de baixo”. No nível político e cultural mantém-se vivo a crença na possibilidade de uma sociedade igualitária, num mundo onde, na verdade, a polarização social é cada vez mais radical entre as pequenas conquistas de uma minoria do operariado e a acumulação de riqueza da alta burguesia cavara-se um abismo que saltava os olhos, justifica-los seria a tarefa das ciências humanas que nascem e se oficializam neste período.

06 – Quando Surge Uma Política Educacional Em Sentido Estrito e Qual o Papel da Escola Nesse Contexto?

A pesquisa histórica revela que uma Política educacional em “Seu Sentido Estrito” tem início no século XIX e decorre de três vertentes da visão de mundo dominante na nova ordem social: De um lado a crença no poder da razão da ciência, legado do iluminismo, de outro, o Projeto liberal de um mundo aonde a igualdade de oportunidades viesse a substituir a indesejável desigualdade baseada na herança familiar; finalmente a luta pela consolidação dos estados nacionais, meta do nacionalismo que impregnou a da política europeia no século passado. Mais do que os dois primeiros a ideologia nacionalista parece ter sido a principal propulsora de uma política mais ofensiva de implantação de redes públicas de ensino em partes da Europa e da América do Norte nas ultimas décadas do século XIX

07 – Caracterize as Teorias Racistas Que Ganharam Notoriedade no Final do Século XIX e Início do Século XX na Europa.

Pag 52 No nível das ideias, a passagem sem traumas da igualdade formal para a desigualdade social real inerente ao modo de produção capitalista dar-se pela tradução das desigualdades sociais em desigualdades raciais, pessoais ou culturais, no entanto segundo Hobesbawm a tendência em atribuir a pobreza a uma inferioridade inata e os piores abusos das teorias racistas só se darão após os anos cinquenta de século XX, ainda segundo o texto a França era o berço das teorias do determinismo racial que começam a ser formuladas logo após o triunfo da revolução burguesa ainda no final do século XVIII, logo após os debates raciais iniciaram-se na Grã Bretanha, e ali ao contrário da frança encontrou alguns obstáculos, sobretudo o pensamento cristão (...). A adesão às teorias anticlericais e ao colonialismo e ao cientificismo permitiu que estereótipos e preconceitos milenares adquirissem status de conhecimento neutro da ciência experimental e positiva a providencia foi substituída pela fisiologia, ciência experimental e positiva que se voltou para a questão das diferenças raciais individuais. A divulgação mais ativa das ideias racistas dar-se a partir dos primeiros anos do século XIX e seu prestígio atinge o ponto mais alto entre 1850 e 1930, Cabanis (1757-1808) médico e filósofo Frances foi um dos mais influentes desse pensamento defendendo teses poligenistas segundo a qual a origem dos humanos é “múltipla” o que autoriza a conclusão de que existem raças anatômicas e fisiologicamente distintas e por isso mesmo psiquicamente desiguais.
Essas teses contrariam a tese monogenista da igreja católica de que todos os homens foram criados a imagem e semelhança de Deus e a origem mítica de que todos os seres humanos tem adão como pai comum.
As teorias antropológicas de Cabanis se fará sentir por pelo menos cento e trinta anos seguintes, a afirmação da desigualdade das raças com base em teses antiquíssimas sobre a relação entre clima temperamento e em sua crença na herança de caracteres adquiridos é um denominador comum entre as teorias racistas formuladas em várias partes do mundo até pelo menos os anos trinta do século XX.


08 – O Que Sir. Francis Galton (1822 – 1911) em suas Atividades Intelectuais, Especialmente na Obra (Hereditary Genius), Pretendeu Demonstrar? Como Sua Teoria se Relaciona Com o Darwinismo?

Sir. Francis Galton, segundo a autora na pág. 58 contribuiu significativamente para o desenvolvimento de noções de distribuição normal, significância estatística e correlação da psicologia experimental, colaborando ainda para criação de “testes psicológicos” que tinham como objetivo principal medir a capacidade intelectual e comprovar a sua determinação hereditária, Sir. Galton era um dos principais adeptos das teorias de Charles Darwin, Galton foi o primeiro a realizar a transferência (Transplante) dos princípios evolucionistas de variação, seleção e adaptação das espécies para os estudos das capacidades humanas. Em seu Livro "Hereditary Genius" Galton tem um objetivo claro, demonstrar que as aptidões naturais humanas eram herdadas exatamente da mesma forma como os aspectos constitucionais e físicos de todo o mundo orgânico. Galton, portanto desejava provar que a genialidade era herdada e segundo Patto todo o restante de sua obra era voltada para esse fim. Teses como as de Galton são contestadas e conforme Hobsbawm no próprio texto, a preocupação com as diferenças individuais e seus determinantes (...) só poderia ocorrer no âmbito da ideologia da igualdade de oportunidades enquanto característica distintiva das sociedades de classe.

09 – Qual a Relação Entre a Psicologia Diferencial e a Eugenia? Aqueles Que Defendiam a Eugenia Eram Necessariamente de Má Fé?

Pag. 58 A existência de uma viva relação entre Psicologia Diferencial e Eugenia pode ser observada em alguns aspectos. A psicologia diferencial é definida no texto como: "A psicologia que se quer investigação quantitativa e objetiva das diferenças existentes entre indivíduos e grupo”. Já a Eugenia é resumida como “ciência que visava controlar e dirigir a evolução humana “aperfeiçoando a espécie” através do cruzamento de indivíduos escolhidos para este fim”. Ambos os procedimentos convergem para a ideia do determinismo racial. Um com a ideia de determinar a real existência de diferenças entre indivíduos e a outra trabalhando com a possibilidade de potencialização e desenvolvimento das qualidades individuais de cada pessoa ou grupo. Na pág. 60, podemos observar a ideia de que o mundo da classe média estava livremente aberto para todos, portanto os que não conseguiam cruzar seus umbrais demonstravam entre outras coisas uma herança racial. Segundo o texto, ambos os procedimentos foram profundamente influenciados por Sir Francis Galton (1822-1911) que fundou a Eugenia e colaborou com o desenvolvimento da psicologia diferencial fundada pelo laboratório alemão Wundt em 1879. As ideias de Sir Galton marcaram época na psicologia, sua influencia em relação aos testes mentais foi marcante no século XIX, sendo seguidos por muitos outros profissionais como Cattell e Anne Anastasi, citados no texto. Não podemos considerar que seguir ideias como as difundidas por Galton se tratava necessariamente de má fé, afinal na época o mundo vivia o anticlericalismo e seus métodos que envolviam testes e experimentos “Científicos”, nesse contexto, dava alguma ideia de confiabilidade.

10 – Na Virada Para o Século XX e Em Suas Primeiras Décadas Quais Explicações Foram Propostas Pelas Teorias Psicológicas Para Explicar o Fracasso Escolar No Brasil?

As explicações para o desnível de aprendizagem e FRACASSO ESCOLAR NO BRASIL movimentaram intelectuais e profissionais da área no decorrer do século XIX, todavia os métodos de pesquisa para se obter tal resultado eram essencialmente estrangeiros, podemos citar por exemplo a incorporação de alguns conceitos psicanalíticos que mudaram não só a visão dominante de doença mental como as concepções correntes sobre as causas das dificuldades de aprendizagem
Passaram a ser consideradas a influencia ambiental sobre o desenvolvimento da personalidade nos primeiros anos de vida além do aumento da importância atribuída à dimensão afetivo emocional na determinação do comportamento e seus desvios. Essas mudanças provocaram uma mudança terminológica no discurso da psicologia educacional, como exemplo podemos citar as crianças que apresentava problemas de ajustamento ou de aprendizagem escolar que anteriormente eram chamadas de anormais passou a ser designada como Criança problema.
Publicações dos anos trinta operavam mudanças nas concepções das causas das dificuldades de aprendizagens escolares: Se antes, elas eram decifradas com os instrumentos de uma medicina e de uma psicologia que falam em anormalidades genéticas e orgânicas agora o são com os instrumentos conceituais da psicologia clínica de inspiração psicanalítica que buscam no ambiente sócio Familiar as causas dos desajustes infantis (...). As causas do insucesso escolar agora vão desde as físicas até as emocionais e de personalidade passando pelas intelectuais.


12 – Em Que Consistia a Teoria da Carência ou Privação Cultural? Qual a Sua Relação com As Práticas de “Educação Compensatória”?

Pag. 71, A ideia de carência social começou a ser desenvolvida a partir de um momento da história em que falar de questões de raça de maneira explícita iniciou a causar constrangimentos, E consistia na tentativa de justificar o desnível de escolaridade entre os ricos e os pobres. Nesse contexto surge como ponto importante a ideia de "ambiente". Tratava-se da instrumentalização da visão etnocêntrica e biologizada de cultura, levando-se em consideração os valores típicos das classes dominantes que eram tidas como as mais adequadas a um bom desenvolvimento psicológico.
Esther Milner, psicóloga Americana publicou em 1951 um estudo experimental cujos resultados encontram-se entre as afirmações chave da teoria da CARENCIA CULTURAL que serviram de base a inúmeros programas de intervenção desenvolvidos no decorrer dos anos sessenta. A Teoria da Carência Cultural é marcada por uma visão etnocêntrica e preconceituosa em relação aos pobres, um exemplo é afirmar que diferentemente da criança rica a criança pobre ao entrar na escola sente falta de uma atmosfera afetuosa e positiva se deparando, segundo ela, com a figura de um adulto hostil que não favorecia em momentos de refeição, por exemplo, conversas espontâneas assim como nas classes elevadas, ela conclui mais a frente que certos aspectos da vida familiar das classes pobres tendem a minar a autoconfiança e desencorajando o desenvolvimento intelectual empatando em uma realização escolar inferior por parte das crianças da classe baixa.
Este estudo traz ideias já abordadas em 1931, pelo autor Buhler, que já abordava o tema de forma similar. Patto afirma que é impressiona o fato desses pesquisadores não perceberem que a própria precariedade dos instrumentos de avaliação e de observação podem ser os responsáveis pelos resultados negativos, ela aborda que não lhes ocorreram que, com um pesquisador a mesa de refeições o comportamento das classes podem sofrer alterações com os mais ricos comportando-se da maneira que é socialmente valorizada, em contrapartida, mais inibida os mais pobres podem agir sem essa preocupação.
Partindo de estudos como esses surgem então ás chamadas Práticas de Educação Compensatórias, que supostamente reverteria ás diferenças ou deficiências culturais e psicológicas de que as classes menos favorecidas seriam portadoras, fazendo renascer a esperança na justiça social, mais uma vez graças ao papel democratizante atribuído a Escola Compensatória.

13 – Observe o Trecho Abaixo:

(...) E a interpretação tida Como verdadeira é a que dissimula e oculta, com maior sutileza, que as divisões sociais são divisões de classes o que equivale a afirmar sua condição ideológica, aqui entendida como: Um conjunto lógico sistemático e coerente de representações (Ideias e Valores) e de normas ou regras (De Conduta)... Cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais sem jamais atribuir tais diferenças a divisão da sociedade em classes “Chauí (...), Patto Pag 51”.

Porque se podem dizer que as Teorias Psicológicas e Sociológicas do Século Possuem Caráter Ideológico?

Uma vez que as teorias Psicológicas e Sociológicas, apresentadas nesse primeiro capítulo do Livro, não conseguiram, na sua condição de ciência, identificar causas e motivos que efetivamente pudessem elucidar, bem como ajudar a minimizar os efeitos do claro desnível de aprendizagem escolar nas diferentes classes sociais, podemos sugerir que os diagnósticos emitidos por elas poderiam estar atendendo a uma necessidade de explicação do problema que atendesse aos interesses daquela sociedade, herdeira da Revolução Burguesa, que a partir do século XVIII foi porta voz do sonho humano de um mundo igualitário fraterno e livre, portanto fazia-se necessário justificar o desnível escolar entre pobres e ricos sem que a as mesmas jamais pudessem ser associadas ás diferenças sociais e a divisão da sociedade em classes, a ideia de meritocracia, isto é do sucesso a partir do esforço individual também precisava ser mantida para dar um caráter de normalidade as gritantes diferenças no aprendizado, impedindo assim, através da responsabilização da própria classe pobre pelos seus fracassos, a ocorrência de revoltas e motins. Tendo, portanto, como base o conceito de ideologia sob o viés trabalhado em sala, em que a realidade dos fatos é dissimuladamente omitida sendo oferecido em troca um conjunto lógico sistemático e coerente de representações cujo objetivo é dar aos membros de uma sociedade uma explicação racional para as diferenças sociais, (EDUCACIONAIS), políticas e culturais, podemos, sim, afirmar, com certa segurança o caráter ideológico com que as Teorias Psicológicas e Sociológicas se deixaram utilizar no contexto exposto no livro.


Alan Cardoso

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