Páginas

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Fichamento da Resenha do Professor Manoel Salgado (Teoria/UFRJ) ao livro: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escala: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.

O documento tem início, Pág. 217, ressaltando o protagonismo Francês no que diz respeito ao esforço de rever discutir e avaliar os parâmetros da pesquisa histórica, diz o texto: “A produção historiográfica francesa é particularmente rica de balanços e avaliações sobre a produção em nossa disciplina como parte de um esforço sistemático para rever e discutir os parâmetros da pesquisa histórica”. “E, ainda na mesma página o autor afirma que pensar sua própria história é importante e explica:” Pensar sua própria história pode assim significar um exercício de legitimação para uma comunidade de profissionais, cuja identidade encontra-se fortemente assentada e construída a partir de lugares socialmente definidos de produção desse conhecimento, com suas regras próprias de consagração.
Mais á frente, também na página 217, podemos observar que o autor propõe que Pensar sua própria história pode ainda atender a necessidade de contínuas reflexões e de contemplação de demandas sociais: “Pensar sua própria história” Pode também responder às exigências contínuas de uma reflexão sistemática sobre os métodos e o lugar da teoria na produção do conhecimento histórico como forma de responder satisfatoriamente aos desafios, tanto da pesquisa histórica em sentido restrito, quanto das demandas sociais postas pela contemporaneidade das sociedades altamente industrializadas.
Aqui o autor destaca a importância do trabalho de Jacques Revel “Historiador Francês” além de sua atuação na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais. O trabalho organizado por Jacques Revel “Jogos de Escala” parece compartilhar desta tradição, assim como contribui para legitimar um viés da pesquisa histórica, hoje com largos espaços de reconhecimento nos seminários da “École des Hautes Études en Sciences Sociales”, onde alguns dos participantes da obra coletiva dirigem seminários de pesquisa, ainda que seus começos estejam associados à historiografia italiana e a nomes como o do historiador Carlo Ginzburg e Giovanni Levi.
Manoel Salgado Guimarães, na página 218, afirma que o Livro de Ravel, Jogos de Escalas, entre outras coisas, traça um rico painel dos problemas envolvendo a micro-história: Resultado das discussões levadas a cabo na própria École, propondo uma reflexão em torno da relação Antropologia e História, o livro “Jogos de Escalas” traça um rico painel dos problemas envolvendo a micro-história, permitindo ao seu leitor um primeiro contato com o universo de questões subjacentes a esta modalidade da pesquisa histórica, situando seu desenvolvimento num quadro historiográfico propriamente dito, assim como sublinhando tradições filosóficas a que este tipo de procedimento, implícito no micro-história, se reporta.
Ainda na página 218, Salgado afirma que dentro do contexto exposto anteriormente se pode se observar à reedição do debate entre a Antropologia e a História, protagonizado por Lévi Strauss e Braudel, desta vez, segundo ele, com a “vitória” do olhar antropológico na pesquisa histórica: Na verdade, assistimos à reedição de um velho debate entre a Antropologia e a História, inaugurado de forma exemplar com Lévi Strauss e Braudel, ainda nos finais dos anos 50, mas que evidentemente se reveste agora de características totalmente diversas, consagrando definitivamente a vitória de um certo olhar antropológico na pesquisa histórica.
A ideia de protagonismo da Antropologia sobre á micro-história também é defendida pelo historiador italiano Edoardo Grendi na página 218, em artigo para o livro, afirma que: abordagem micro-histórica estaria indelevelmente marcada pelo signo da antropologia na medida em que educou seu olhar para ver o passado a partir de uma perspectiva de estranhamento, vendo-o como efetivamente uma terra estrangeira, numa formulação que sugere o título da obra de David Lowenthal, The Past is a foreign country (O passado é um país estrangeiro).

O autor localiza o ano de 1989 como um ano simbolicamente marcado por eventos de profundas significações para a pesquisa histórica (...), comenta ainda que no referido ano (1989), a tradição hegemônica herdada pela escola doa Annales sofre profundas críticas (...). E Conclui: É neste quadro de crítica da tradição herdada que a micro-história emerge, apontando novas possibilidades para o trabalho do historiador, que ainda reafirmando a história como social, procura sofisticar e redimensionar a pesquisa a partir de procedimentos que questionam as antigas concepções da história social.

Na página 2019 o autor afirma que a historiografia francesa responde ao Giro Linguístico “linguistic turn” com o “tournant critique” Giro Crítico, e aponta que o reconhecimento e legitimação proporcionados à micro-história integram este movimento mais amplo de repensar os caminhos da pesquisa histórica. Aqui o autor traz novamente a posição de Edoardo Grendi, sugerindo que o mesmo colabora no sentido: de compreender a prática do micro-história como particular ao quadro intelectual da historiografia italiana, representando uma via italiana de uma história social mais elaborada uma espécie de alargamento de horizontes para o trabalho do historiador.
Salgado informa que a resposta para a pergunta, De onde teriam os historiadores italianos buscando suas sugestões para o projeto de uma reescritura da história liberta das hierarquias e definições de uma história feita à maneira tradicional, pode está no artigo: artigo de Paul-André Rosental, “Construir o macro pelo micro”: Frederik Barth e a microstoria. O autor sublinha as possíveis sugestões contidas no trabalho do antropólogo norueguês e que estimularam as reflexões dos historiadores italianos, Ao valorizar o conjunto de variantes comportamentais, Barth aponta para a importância dos contextos decisórios que põem em relação atores sociais num jogo relacional complexo (...). Esta sensibilidade parece marcar profundamente os micro-historiadores.
Na página 220 o autor continua... Ainda a partir das sugestões do antropólogo norueguês, segundo o artigo de Rosental, os historiadores italianos do micro-história incorporaram uma certa dimensão de incerteza e imprevisibilidade presentes nas ações humanas e necessariamente consideradas como parte da análise histórica. O autor considera central o fato de que: A micro-história se coloca em frontal oposição à perspectiva das análises macro-históricas, que situavam a possibilidade de explicação dos fenômenos históricos a partir da localização de causas situadas num plano macroestrutural... E conclui... Ataque frontal a um dos pressupostos mais caros da história social francesa à maneira dos Annales (...). Afirma ainda, não se trata apenas de uma mera diferença de escala tomada para a análise dos fenômenos históricos, mas um redimensionamento de objetos e questões que põem em dúvida as certezas estabelecidas pela história social de corte marcadamente macroestrutural. Mais a frente ainda na página 220 o autor cita Bernard Lepetit e seu texto “Sobre a escala na história”, no livro organizado por Revel, onde afirma a necessidade imperiosa da escolha da escala como condição mesma para o conhecimento que se pretende.
Na página 221 é exposto que a escolha de uma escala engendra objetos que não existem como entes substantivados no mundo. Desta maneira, Lepetit formula uma das críticas mais contundentes a um realismo simplista do trabalho do historiador, assegurado pelo registro deste real em fontes consultáveis. Ainda na página 221 do texto do Manoel Salgado cita o autor: Marc Abélès, definindo seu trabalho: O Racionalismo Posto à Prova da Análise como: Particularmente interessante e estimulante, Partindo de rápidas considerações a respeito do lugar das análises microscópicas entre os antropólogos, que por vezes chegam mesmo a fetichizar o micro como sendo o lugar do desvendamento pleno dos fenômenos sociais. Aqui é chamado a atenção para o fato de que: O debate em torno da micro-história obriga-nos a repensar os rígidos cânones de uma interpretação cartesiana da racionalidade e dos procedimentos decorrentes desta forma particular de racionalidade. Mais a frete é chamada a atenção para o texto: Escala, Pertinência, Configuração de Maurizio Gribaudi que, segundo o autor, (...). Constrói a partir de uma crítica à perspectiva de história social apontando para os riscos de se tomar os documentos com o sentido de uma evidência imediata, vendo neles a inscrição de um real dado à observação e análise dos historiadores, ficando assim, prisioneiro das formas passadas de inscrição dos fenômenos que estuda. Não sendo capaz de repensar estas inscrições historicamente a partir de uma multiplicidade e da não linearidade dos fenômenos que estuda.

Na página 222 o autor informa que a impossibilidade da formulação de leis gerais para o desenvolvimento histórico a partir da observação de um fenômeno através da História é outro elemento central sublinhado como uma das marcas da micro-história praticada pelos autores do livro. O exemplo retomado por Gribaudi, a partir das sugestões de Giovanni Levi, procura mostrar como o advento do Estado Moderno, quando tratado a partir de uma perspectiva micro, mostra uma pluralidade de possibilidades e realizações históricas, diversas entre si. Mais a frente ainda na página 222 o autor diz que: O conceito de contexto adquire então uma centralidade importante, ainda que evidentemente não seja percebido da mesma forma que a história social de recorte macro o trata e conclui... A narrativa histórica não é apenas o relato do efetivamente acontecido porque necessário à razão histórica, mas também o relato das alternativas possíveis postas num jogo a ser decidido pelos atores históricos em questão.
Aqui Salgado afirma: Como não deixar de sentir aqui as marcas do trabalho: Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século XVII de Simona Cerutti, inspirado na obra do autor: E.P.Thompson, Seguindo a maneira sugerida por Thompson, a análise do historiador deveria cruzar elementos processuais de análise com trajetórias individuais, o que a autora procurou empreender em sua análise dos grupos profissionais na cidade de Turim, já na página 223 o autor afirma que inspirada em escritores ingleses Simona Cerutti, radicaliza sua análise no sentido de perceber, através do estudo das trajetórias individuais, as respostas históricas formuladas pelos protagonistas em ação, procedimento este que, segundo a autora, implicou numa reinterpretação do próprio processo geral, adotada, segundo o autor por: Sabina Loriga. No artigo intitulado “A biografia como problema” onde a aposta biográfica pode se constituir em importante viés para a interpretação dos fenômenos macro, a partir de uma perspectiva que obriga a uma reinterpretação das tradições herdadas de análise.

Nesse trecho do texto o autor trata da questão das biografias, segundo ele elas ficaram: longo tempo expulsas do campo da pesquisa histórica, todavia, Com o deslocamento do foco de análise das estruturas macro-sociais para as experiências vividas pelos atores históricos, à trajetória biográfica pode assim encontrar um lugar legítimo na reflexão dos historiadores, ele ainda destaca que: O olhar de Sabina Loriga busca recuperar na pesquisa biográfica sua dimensão heurística para o conhecimento da história.

Ao Final Manoel Salgado Guimarães conclui que: “Jogos de escalas. A experiência da microanálise” é leitura importante para compreendermos os caminhos da produção em nosso campo de conhecimento e, combinando uma reflexão teórica sofisticada à pesquisa documental, sublinha a importância desta dupla dimensão do trabalho do historiador, podendo também contribuir para uma crítica contundente dos diferentes matizes positivistas a que nossa disciplina esteve sujeita.


Fichamento Alan Cardosos
Graduando Curso de História
Universidade Federal da Bahia

Nenhum comentário: