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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Fichamento do cap. "Sobre a micro-história", de Giovani Levi, p. 133-161, do livro organizado por P. Burke (1992), A Escrita da História: Novas perspectivas

Pág. 133. O autor inicia informando que “Não é por acaso que o debate sobre à micro-história não tem sido baseado em textos ou em manifestos teóricos”, e atribui a isso o fato de, segundo ele “A micro-história ser essencialmente um a prática historiográfica em que suas referências teóricas são variadas e”, em certo sentido, ecléticas.
Afirma ainda que “Muitos historiadores que aderem à micro-história têm-se envolvido em contínuos intercâmbios com as ciências sociais e estabelecido teorias historiográficas sem, contudo, sentir qualquer necessidade de se referirem a qualquer sistema coerente de conceitos ou princípios próprios”.
Pág.: 134: Aqui o autor define a micro-história como um “trabalho experimental”, não tem um corpo de ortodoxia estabelecida para dele se servir. Mais adiante ele afirma que: A ampla diversidade de material produzido demonstra claramente o quanto é limitada a variedade de elementos comuns. Ainda na pág. 134 ele atribui “algumas características distintas na micro-história que derivam dos anos 70, afirmando que “Não havia nada incomum nisso, pois os anos 70 e 80 foram anos de crise para a crença otimista prevalecente naquela época”, segundo ele “muitas das esperanças, incluindo do domínio da historiografia, estavam se comprovando inadequadas diante das imprevisíveis consequências dos acontecimentos políticos e das realidades sociais, longe de estar em conformidade com os modelos propostos pelos grandes sistemas marxista”. E conclui, “Ainda estamos vivendo as fases dramáticas (...) deste processo e os historiadores têm sido forçados a colocar novas questões sobre suas próprias metodologias e interpretações, pois, Os prognósticos de comportamento social estavam se com provando demonstravelmente errôneos e esta falência dos sistemas e paradigmas existentes requeria não tanto a construção de um a nova teoria social geral, mas um a completa revisão dos instrumentos de pesquisa atuais”.
Pág.: 135: Aqui o autor pontua que “Havia várias reações possíveis para a crise, e a micro-história em si nada mais é que uma gama de possíveis respostas que enfatizam a redefinição de conceitos e uma análise aprofundada dos instrumentos e métodos existentes”. O autor afirma também que surgiram ao mesmo tempo outras soluções consideradas por ele mais drásticas como: “o neo-idealismo ou mesmo para o retorno a uma filosofia repleta de irracionalidade.” O texto afirma que: “Os historiadores que aderiram à micro-história, em geral tinham suas raízes no marxismo (...) e possuíam pouca inclinação para a metafísica e que, apesar do fato dessas características estarem manifestadas (...) acredita que serviram para ancorar firmemente esses historiadores à ideia de que a pesquisa histórica não é um a atividade puramente retórica e estética”.
O trabalho da micro-história sempre se centralizado na busca de um a descrição realista do comportamento humano reconhece sua relativa liberdade, mas não fora, das limitações dos sistemas normativos prescritivos e opressivos. Assim, toda ação social é vista como o resultado de um a constante negociação, manipulação, escolhas e decisões do indiví¬duo, diante de uma realidade normativa que, (...) oferece muitas possibilidades de interpretações e liberdades pessoais. A questão é, portanto, com o definir as margens (...) da liberdade garantida a um indivíduo pelas brechas e contradições dos sistemas normativos que o governam.

Pág., 136: Aqui o autor localiza o papel da micro-história: “Assim, a micro-história possuía uma posição muito específica dentro da chamada nova história. Era mais importante refutar o relativismo, o irracionalismo e a redução do trabalho do historiador a um a atividade puramente retórica que interprete os textos e não os próprios acontecimentos. Mais adiante define: A micro-história como uma prática é essencialmente baseada na redução da escala da observação, em um a análise microscópica e em um estudo intensivo do material documental”.
Pág., 137 e 138: “Para a micro-história, a redução da escala é um procedimento analítico, que pode ser aplicado em qualquer lugar, independentemente das dimensões do objeto analisado”. O autor afirma que “Deseja (...) encarar mais de perto o problema, pois a ideia da escala ser um objeto de estudo é um a fonte de má interpretação para muitas pessoas” e para ilustrar cita o que ele chama de investida contra a história do autor Franco Ventura: “Estudar as crônicas de uma aldeia (...), é algo completamente sem sentido. O dever do historiador é estudar as origens daquelas ideias que moldam nossas vidas, não escrever novelas. É importante situar firmemente no centro de nossos estudos as raízes de nossa vida moderna.”. E conclui citando Geertz: Seria possível replicar isso, parafraseando Geertz: “Os historiadores não estudam as aldeias, eles estudam em aldeias”. Aqui o autor afirma que “a descrição de combinações de escala diferentes, (...) é importante no fenômeno social, ainda que apenas com o um meio de atribuir dimensões internas ao objeto de análise”. Entretanto, afirma ele, é até banal afirmar que as dimensões particulares do objeto de análise não refletem necessariamente a escala distintiva do problema colocado”.
Pág., 139, 140 e 141: O princípio unificador de toda pesquisa micro-histórica é a crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados. Alguns exemplos desse procedimento intensivo são:
O estudo das estratégias matrimoniais consanguíneas em um a pequena aldeia na região para revelar o universo mental dos camponeses do século dezessete.
O estudo das transações de terra de um a aldeia para descobrir as regras sociais do intercâmbio comercial que operam em um mercado.
Examinemos o último exemplo (...), a respeito á comercialização da terra é uma crença amplamente considerada que a precocidade e a frequência das transações de terra, ocorridas em muitos países (...), indicam a presença precoce do capitalismo e do individualismo. Dois elementos evitaram uma avaliação mais adequada deste fenômeno. Os historiadores foram induzidos ao erro por sua própria mentalidade mercantil moderna, que os levou a interpretar as quantidades maciças de transações monetárias de terra que encontraram em documentos (...) como evidência da existência de um mercado autorregulador. Curiosamente, ninguém observou ou deu importância ao fato de que os preços envolvidos eram extremamente variáveis, mesmo considerando-se as qualidades diferentes da terra. Apenas reduzindo-se a escala de observação a uma área extremamente localizada foi possível observar que o preço da terra variava segundo o relacionamento de parentesco entre as partes contratuais. Também foi possível mostrar que eram imputados preços variáveis a terras de igual dimensão e qualidade desse modo, tornou-se possível estabelecer que se estivesse observando um mercado complexo, em que os relacionamentos sociais e pessoais desempenhavam um papel determinante no estabelecimento do nível de preço, do prazo de pagamento e das formas pelas quais a terra trocava de mãos.
Esse exemplo parece-me particularmente revelador da maneira como a micro-história procede de modo geral. Os fenômenos previamente considerados como bastante descritos e compreendidos assumem significados completamente novos, quando se altera a escala de observação.
Pág., 141 e 142: O autor aqui afirma que A micro-história tem suas raízes no interior do círculo de pesquisa histórica, mas que existem muitas características que demonstram ligações entre a história à antropologia, “particularmente aquela “descrição densa” que Clifford Geertz encara com o a perspectiva adequada do trabalho antropológico”, mais a frente ele assim classifica o trabalho do etnólogo: Os escritos antropológicos são trabalhos imaginativos em que a habilidade do autor é medida por sua capacidade de nos colocar em contato com as vidas dos forasteiros e de fixar os acontecimentos ou o discurso social de forma a nos permitir examiná-los claramente. O poder do intérprete tornou-se, portanto infinito, imensurável, não suscetível de falsificação, e ainda: Qual é, então, o papel da teoria? Geertz nega que a abordagem interpretativa deva renunciar explicitamente às formulações teóricas. Entretanto, ele imediatamente prossegue dizendo “que os termos em que tais formulações podem ser moldadas são, se não inteiramente inexistentes, muito próximos disso”.

Pág., 143: Na etnografia, a função da teoria é promover um vocabulário, onde o que a ação simbólica tem a dizer sobre si mesmo, ou seja, sobre o papel da cultura na vida humana possa ser expresso. Assim, a teoria é “um repertório de conceitos e sistemas de conceitos muito gerais, elaborados no interior da academia”... Que se agita no corpo de uma etnografia de descrição densa, na esperança de transformar ocorrências simples em cientificamente eloquentes. Por isso, os conceitos são instrumentos frios tomados da bagagem da ciência acadêmica, eles são úteis na interpretação, mas é apenas nessa função que adquirem realidade concreta e especificidade.

Pág., 144: O autor fala sobre o papel da teoria “A teoria só tem um pequeno papel, com o subalterno, para desempenhar, em relação ao papel muito maior do intérprete, e ainda, “a única importância da teoria geral é uma parte da construção de um repertório sempre em expansão do material densamente descrito, tornado inteligível através de sua contextualização, que servirá para ampliar o universo do discurso humano”. Nesta página o autor fala ainda sobre as semelhanças entre antropologia interpretativa e a micro-história, mais destaca duas diferenças importantes, um a derivada do uso tradicionalmente mais intenso da pesquisa intensiva em pequena escala e a outra derivada de um aspecto que definiu com o um a espécie de limitação auto-imposta, Essas duas diferenças dizem respeito a trabalhos ha prática da racionalidade humana e à legitimidade de se fazerem generalizações nas ciências sociais. A antropologia interpretativa presume a racionalidade como um ponto de partida, como algo impossível de ser descrito fora da ação humana Entretanto, Geertz extrai dessas considerações conclusões extremas. A única coisa que podemos fazer é primeiro tentar procurar conhecer e depois tornar explícitos, através da descrição densa, os prováveis significados das ações. Aqueles que concordam com essa abordagem não acreditam que seja necessário questionar as limitações, as possibilidades e a mensurabilidade da própria racionalidade.

Pág., 145: Pode-se prosseguir e afirmar que a concepção de Geertz é revelada por algumas características que ele extraiu de Heidegger em particular a rejeição da possibilidade de explicação total e a tentativa de construir um a hermenêutica da escuta; ou seja, escutar a linguagem poética, em outras palavras, a linguagem apreendida no esforço de inventar novos significados, Geertz, com o Heidegger, considera esses modelos simbólicos na linguagem (...) da poesia, que representa a mais alta expressão da experiência humana da realidade. Geertz especificamente se refere à linguagem do mito, do ritual e da arte: “Para compor nossas mentes devemos saber como nos sentimos a respeito das coisas, e para saber como nos sentimos a respeito das coisas precisam os das imagens públicas do sentimento que apenas o ritual, o mito e a arte podem proporcionar”. Essa opinião é consistente com a teoria anti-hegeliana de Heidegger, de que o conhecimento do indivíduo não deve dissolver a existência de outros em si mesmo, mas antes que a função adequada do pensamento como um “classificador hermenêutico” é permitir que as outras pessoas permanecessem sendo as outras, o autor acredita assim que “que esse elo heideggeriano é essencial para um entendimento, tanto da força e da sutileza das interpretações, quanto da relativa debilidade das explicações dos mundos na antropologia interpretativa de Geertz”.

Pag., 146: O autor inicia falado sobre as peculiaridades das diferentes culturas: Sem dúvida deve ser aceito que, de um ponto de vista biológico, todos os homens possuem intelectos substancialmente iguais, mas esse intelecto é completamente dependente dos recursos culturais para seu funcionamento. Essa ênfase na cultura permite que se evite qualquer teoria da superioridade do homem civilizado sobre o homem primitivo. Também evita que se considere a ideia de que a cultura surge em alguns pontos ordenados nas fases revolucionárias. A cultura, definida com o a capacidade de pensamento simbólico, é parte da verdadeira natureza do homem. A cultura não é suplementar ao pensamento humano, mas seu ingrediente intrínseco. Não obstante, segundo Geertz, o problema a de se evitar o relativismo cultural “absoluto” assim tornando possível a comparação entre as culturas, não pode ser resolvido e não deve nem mesmo ser mencionado.

Pág., 147: Nesse trecho o autor pontua que: De fato, os seres humanos neces¬sitam de constantes estímulos afetivos e intelectuais, mas, ao mesmo tempo, esses mesmos estímulos requerem um controle cultural contínuo que os organize em um a ordem significativa e inteligível. No primeiro momento, o pensamento é organizado de acordo com as estruturas simbólicas públicas à mão e somente depois disso, ele se torna privado. Mas Geertz não pode ir além dessas considerações, pois um a investigação m ais específica no funcionamento da razão iria inevitavelmente introduzir implicações ameaçadoras de um a hierarquização de culturas.
Geertz defende o papel desempenhado pelo relativismo cultural na destruição do etnocentrismo, (...). “E encara todo o anti-relativismo como uma tendência perigosa para considerar algumas culturas como hierarquicamente superiores a outras”.

Pág., 148: Geertz não se declara relativista, mas antes um anti-relativista, no sentido de que estamos em um estágio, talvez transitório, em que apenas a descrição densa e a elaboração de um repertório de significados são possíveis, (...), Entretanto, afirma o autor não parece que sua redução de todo argumento racionalista a um renascimento potencial de conceitos hierárquicos de cultura seja defensável; e de fato é difícil considerar Gellner, Lévi-Strauss, Needham, Winch, Horton e Sperber, a quem Geertz se refere, todos com os expoentes de um a ordenação hierárquica de culturas. Por que os processos cognitivos. ou os universais cognitivos conduziriam apenas a um a conclusão etnocêntrica?

Pág., 149: Aqui o autor busca estabelecer as diferenças entre a micro-história e a antropologia interpretativa: “Parece-me que um a das principais diferenças de perspectiva entre a micro-história e a antropologia interpretativa é que a última enxerga um significado homogêneo nos sinais e símbolos públicos; enquanto a micro-história busca defini-los e medi-los com referência à multiplicidade das representações sociais que eles produzem”. (...), mais a frente continua: Tanto a quantidade de informação necessária para se organizar e definir a cultura, quanto à quantidade de informação necessária à ação, são historicamente mutáveis e socialmente variáveis. É esse, portanto, o problema que necessita ser enfrentado, um a vez que o arcabouço das estruturas públicas, simbólicas, é uma abstração. Pois, no contexto de condições sociais diferentes, essas estruturas simbólicas produzem um à multiplicidade de representações fragmentadas e diferenciadas; e será essas o objeto do nosso estudo.

Pág., 150: Aqui o autor trabalha com o autor Gertz numa perspectiva de crítica: Parece-me, por isso, não ser suficiente conduzir um a discussão geral do funcionamento simbólico, tendo-se como base uma definição geertziana de cultura com o um a busca infinita de informação. Acredito ser necessário tentar medir e formalizar os mecanismos de racionalidade limitada, uma racionalidade limitada em que a localização de seus limites varia com as várias formas de acesso à informação para permitir um entendimento das diferenças existentes nas culturas dos indivíduos, grupos e sociedades em várias épocas e locais. Mais a frente conclui: A qualidade um tanto alusiva do importante, mas incompleto sistema de Geertz negligencia esse objetivo.
E ainda: Existe prova (...), de que o repertório das descrições densas não tem um objetivo comparativo, mas permanece simplesmente um repertório do qual se extraem casos para esclarecimento, segundo regras não especificadas. Consequentemente, a interpretação tem, com frequência, permanecida em aberto, imponderável e limitada.

Pág., 150 e 151: Para exemplificar o tópico acima o auto cita o Grande massacre dos gatos: Alguns exemplos dessa imponderabilidade aparecem mais nos geertzianos do que no próprio Geertz. Um exemplo clássico parece-me ser o Great Cat Massacre, de autoria de Robert Darnton.
Dessa maneira, um repertório de conceitos é introduzido em um repertório de acontecimentos interpretados, na esperança de que eles operem juntos para que os acontecimentos simples possam se tornar cientificamente eloquentes e, opostamente, que conclusões de longo alcance possam ser extraídas da densidade de fatos simples. Esse método com frequência resulta em um a história cultural sem análise social, ou em um a análise social extremamente estereotipada extraída de um a história cultural intensivamente investigada.

Pág., 152: Aqui o autor fala sobre pesquisa histórica, e afirma que a mesma não tem a ver apenas com a comunicação dos resultados em um livro. “A micro-história dirigiu especificamente o problema da comunicação e tem estado bastante consciente de que a pesquisa histórica não tem a ver apenas com a comunicação dos resultados em um livro”.
Em geral, os problemas de prova e demonstração em história, por meio do relato de momentos concretos, têm uma relação próxima com as técnicas de exposição. Não é simplesmente um problema de retórica, pois o significado do trabalho histórico não pode ser reduzido à retórica, mas especificamente um problema de comunicação com o leitor, que nunca é um a tabula rasa, e por isso sempre coloca um problema de recepção.

Pág., 153: Nesse memento o autor fala das duas principais funções da narrativa: a função particular da narrativa pode ser resumida em duas características:
A primeira é a tentativa de demonstrar, através de um relato de fatos sólidos, o verdadeiro funcionamento de alguns aspectos da sociedade que seriam distorcidos pela generalização e pela formalização quantitativa usadas independentemente.

A segunda característica é aquela de incorporar ao corpo principal da narrativa os procedimentos da pesquisa em si, as limitações documentais, as técnicas de persuasão e as construções interpretativas. E em seguida fala sobre a construção do processo: O processo de pesquisa é explicitamente descrito e as limitações da evidência documental, a formulação de hipóteses e as linhas de pensamento seguidas não estão m ais escondidas dos olhos do não iniciado. O leitor é envolvido em um a espécie de diálogo e participa de todo o processo de construção do argumento histórico.

Pág., 154: A abordagem micro-histórica dedica-se ao problema de como obtemos acesso ao conhecimento do passado, através de vários indícios, sinais e sintomas. Esse é um procedimento que toma o particular com o seu ponto de partida e prossegue, identificando seu significado à luz de seu próprio contexto específico, o autor fala ainda sobre o funcionalismo: A teoria de contexto m ais coerente é a funcionalista, cujo aspecto mais característico talvez seja aquele de se focalizar o contexto para explicar o comportamento social. Para o funcionalismo, não são tanto as próprias causas do comportamento que constituem os objetos de análise, m as antes a normalização de um a forma de comportamento em um sistema coerente que explica aquele comportamento, suas funções e o modo como ele opera.

Pág., 155: Aqui o autor defende novamente a redução na escala: A redução da escala é um a operação experimental (...), porque ele presume que as delineações do contexto e sua coerência são aparentes, e revela aquelas contradições que só aparecem, quando a escala de referência é alterada.

Pág., 156: Outro conceito de contextualização é aquele que entende o contexto cultural com o um processo de se colocar um a ideia dentro dos limites prescritos pelas linguagens disponíveis, Esta teoria encara o contexto com o sendo ditado pela linguagem e pelos idiomas disponíveis e utilizados por um grupo particular de pessoas em um a situação particular para organizar, por exemplo, suas lutas de poder. Essa escola de pensamento tem tido grande influência sobre a teoria social em si e tem iniciado tantas discussões que parece supérfluo voltar a expor seus argumentos. Entretanto, a perspectiva da micro-história é, mais um a vez, diferente, porque uma importância fundamental é dada às atividades, às formas de comportamento e às instituições que proporcionam o arcabouço dentro do qual os idiomas podem ser adequadamente entendidos, e que permitem um a discussão significativa daqueles conceitos e convicções que de outra maneira permaneceriam hermeticamente fechados em si mesmos, sem um a adequada referência à sociedade.

Pág., 157 e 158: A micro-história tem demonstrado a falibilidade e a incoerência dos contextos sociais, com o convencionalmente definidos: observe-se, por exemplo, as críticas feitas por M. G ribaudi33 em relação à delimitação das vizinhanças da classe trabalhadora. Gribaudi demonstra que as solidariedades podem estar baseadas, não tanto na similaridade da posição social, mas antes na similaridade da posição nos sistemas de relacionamentos. Essas observações colocam problemas adicionais, o que é necessário considerar brevemente. Em primeiro lugar, o problema do contraste entre o conhecimento individualizado e o generalizado - debate recorrente entre os historiadores sociais. A micro-história tenta não sacrificar o conhecimento dos elementos individuais a um à generalização mais ampla, e de fato acentua as vidas e os acontecimentos individuais. M as, ao mesmo tempo, tenta não rejeitar todas as formas de abstração, pois fatos insignificantes e casos individuais podem servir para revelar um fenômeno mais geral. O problema é m ais aquele de com o podem os elaborar um paradigma que dependa do conhecimento do particular, embora não rejeitando a descrição formal e o conhecimento científico do próprio particular.

Pág., 159: Como esta tendência a identificar a formalização com a quantificação há muito tempo tem sido predominante, a história ficou paradoxalmente atrás das outras ciências sociais. Parece-me que a micro-história se movimenta mais firmemente em direção aos ramos não quantitativos da matemática, para apresentar representações mais realistas e menos mecanicistas, ampliando assim o campo da indeterminação, sem necessariamente rejeitar as elaborações formalizadas.
A o se decidir trabalhar com um quadro diferente, m ais com plexo e realista, da racionalidade de atores sociais e ao se considerar a natureza fundamentalmente entrelaçada dos fenômenos sociais, torna-se de imediato necessário desenvolver e utilizar novos instrumentos formais de abstração. O campo permanece bem aberto para a exploração dos historiadores.

Pág., 160: Aqui o autor define as características da Micro-história: São as questões e posições comuns que caracterizam a micro-história: a redução da escala, o debate sobre a racionalidade, a pequena indicação com o um paradigma científico, o papel do particular, a atenção à capacidade receptiva e à narrativa, uma definição específica do contexto e a rejeição do relativismo. Mas a frente o autor traz uma definição de Ravel a micro-história: Revel define a micro-história com o a tentativa de estudar o social, não com o um objeto investido de propriedades inerentes, mas com o um conjunto de inter-relacionamentos deslocados existentes entre configurações constantemente em adaptação. E continua: A micro-história tentou construir um a conceituação mais fluida, um a classificação menos prejudicial do que constitui o social e o cultural, e um arcabouço de análise que rejeita simplificações, hipóteses dualistas, polarizações, tipologias rígidas e a busca de características típicas.
Com referência à definição de Revel, o autor salientou mais claramente o impulso anti-relativista da micro-história e as aspirações de formalização que a caracterizam, que em sua opinião.
Pág., 161: Ao fim ele afirma: Não sei se esta apresentação da micro-história é confiável. Gostaria de apresentar, em termos mais ou menos bem caracterizados, um grupo de pessoas que na verdade tem se envolvido em muitos e variados debates na história social italiana nos anos 70 e 80. Talvez eu devesse ter explicado, de modo mais amplo, as várias opiniões diferentes envolvidas e as referências a um debate histórico que se estende muito além do grupo italiano. Devo, por isso, esclarecer as coisas informando o leitor de que meus princípios diretivos são fortemente pessoais; este é muito mais um auto-retrato que um retrato de grupo. Eu não poderia ter feito de outra forma e por isso advirto o leitor ser este o caso.















































Fichamento e Organização: Alan Cardoso Ferreira Santos

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