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terça-feira, 30 de novembro de 2021

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Resenha do Filme: Germinal

Resenha do Filme: Germinal

Discente: Alan Cardoso Ferreira Santos

 

O filme O Germinal é uma obra baseada no livro de mesmo nome escrito pelo francês Émile Zola. O longa-metragem é ambientado em meados do século XIX, e tem a proposta de abordar da maneira mais realista possível a conjuntura socioeconômica da França em um momento de grande relevância histórica, a Revolução Industrial, isto é, o processo de transição das formas de trabalho que, grosso modo possibilitou a sobreposição das ferramentas manuais por máquinas, do modo de produção artesanal e braçal, pelo trabalho nas fábricas.

 A peça cinematográfica foi dirigida pelo francês Claude Berri, e oportuniza, entre outras coisas, uma preciosa ocasião para observação e teste do funcionamento do método de análise social desenvolvido Por Carl Marx o Materialismo Histórico Dialético, uma vez que a realidade de trabalho e de vida degradantes dos personagens impacta e interfere em todas as outras dimensões de suas “existências”.

 A projeção cujo conteúdo transcorre na maior parte do tempo em uma mina de carvão, a mina Voreux na cidade de Montsou converge, em muitos aspectos, com a bibliografia estudada no componente (Historiografia I) em pontos importantes como os presentes na obra de Eric Hobsbawm onde o autor em “A Era das Revoluções” aborda a Revolução Industrial, se referindo ao caso Inglês, afirmando:

Poucos refinamentos intelectuais foram necessários para se fazer a Revolução Industrial. Suas invenções técnicas foram bastante modestas, e sob hipótese alguma estavam além dos limites de artesãos que trabalhavam em suas oficinas ou das capacidades construtivas de carpinteiros, moleiros e serralheiros. (Pág: 28).

 O ambiente criado pela equipe do filme o Germinal transmite de maneira crível ao espectador o sentimento de penúria “vivido” pelos personagens do núcleo proletarizado, os apresentando não como produtores autônomos, que controlam diretamente a confecção de mercadorias e produtos, mas sim como pessoas que possuem apenas sua envergadura muscular, sua mão de obra, reduzidas a simples operadores de ferramentas, caracterizando de maneira clara o modo de produção capitalista.

 A narrativa faz um recorte da extração do carvão na França que no início do século XIX, segundo Hobsbawm, era a principal fonte de energia industrial além de ser um importante combustível doméstico, para ele, portanto, conforme trecho acima, a mineração do carvão, em seu início, quase não sofreu uma importante transformação tecnológica, o que corrobora com o visto no filme, uma vez que é possível observar, no decorrer da trama a predominância do trabalho essencialmente braçal e a utilização de técnicas e ferramentas ainda rudimentares. Essa condição, no entanto, não impedia a alta produção, extraia-se uma quantidade imensa desse minério, para se ter ideia “segundo Hobsbawm” em 1800 a França foi o segundo maio produtor mundial de carvão, produzindo, menos de um milhão de toneladas, ficando atrás apenas da Grã-Bretanha, que foi o maior produtor (de carvão) no período.

 A trama lança luz sobre as condições de vida de um grupo do proletariado francês que exerciam em comum o pesado ofício da extração do carvão, atividade que além de expor os trabalhadores a ambientes insalubres, quase insuportáveis era caracterizada pela baixa remuneração impondo a quem ali trabalhava uma existência miserável.

 Étienne Lantier, é apresentado como protagonista, em torno dele (mas, não só dele) construiu-se as narrativas que nos permite perceber as profundas contradições estabelecidas pelo meio. No início da trama o encontro entre Étienne Lantier com outro personagem o “Boa Morte” tem forte apelo simbólico, “Boa Morte” é o apelido do patriarca da família cuja história transcorrerá no entorno, a única fonte de subsistência dessa família, por gerações foi o trabalho na mina. A conversa entre “Étienne Lantier” e “Boa Morte”, portanto, sem dúvidas possui um forte valor metafórico. Ali, “cara a cara” estão dois homens em momentos diferentes de suas existências o Étienne Lantier, representa a figura do homem que se desloca de sua terra em busca de uma vida melhor, carregando entre seus utensílios pessoais boa quantidade de esperança, do outro lado está o “Boa Morte”, homem que dedicara 50 de seus 58 anos ao trabalho naquele lugar, portanto, para ele, não há outra realidade senão a apresentada por aquele lugar, aparentando muito mais idade do que realmente possuía, “Boa Morte” claramente transmite, ao contrário do Étienne Lantier a desesperança, doente, “Boa Morte”, simboliza fidedignamente o que Friedrich Engels em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, capítulo “O proletariado mineirodescreve se referindo a quem exercia esta mesma atividade (extrator de carvão) na Inglaterra:

(...) Homens que começam a trabalhar precocemente nas minas não atingem o desenvolvimento físico das mulheres que trabalham na superfície; muitos morrem ainda jovens, vítimas de tuberculose galopante, e outros na meia-idade, em razão da tuberculose lenta; é comum o envelhecimento precoce, que torna os homens ineptos para o trabalho entre 35 e 45 anos. (Pág: 276).

 Étienne Lantier, que procurava trabalho teve Boa Morte, com sua tosse insistente e aparentando uma existência vazia de sentido, como cartão de visitas, iniciando ali a construir um posicionamento que o faria, mais á frente, lutar para tentar ter, no futuro, um destino diferente do seu interlocutor. As condições sub-humanas apresentadas no filme indicavam para um eminente ato de resistência dos trabalhadores e é esse processo que ocupa praticamente toda primeira parte do filme.

 Boa morte era pai de Meheu, este casado com Maheude, tinham sete filhos e todos moravam em uma pequena casa sem privacidade dividindo inclusive a água do banho. Meheu era um operário antigo que trabalhava na mina junto com alguns filhos, inclusive sua filha mais velha Catherine”, Meheu ao saber que uma de suas colegas de trabalho “Fleurance” havia morrido, pede para que a mesma seja substituída por Étienne Lantier que anteriormente havia percorrido a mina em busca de trabalho, mas não havia encontrado vaga. A presença de Catherinetorna-se um alento para Lantier e a recíproca parece ser verdadeira, ambos se olham e se admiram e certamente isso ajuda Lantier a adapta-se mais rapidamente ao trabalho na Voreux.

 No cenário perverso apresentado pelo filme, como já foi citado, todos da família precisam trabalhar, homens mulheres e crianças, todavia um dos filhos de Meheu o Maxime, tem apenas cinco meses e em função de ter que alimentar e cuidar da criança Maheude,  a esposa de Meheu não trabalha na mina, Maheude costumava pedir ajuda financeira a burguesia para colaborar na despesa de casa. A saída de um membro da família do núcleo familiar impactava fortemente no orçamento doméstico, foi o que ocorreu quando um dos filhos de Meheu, o Zacharie, casou, tentando resolver o problema da queda no orçamento Maheude convida Lantier para morar com eles, mais tarde, porém, a família seria desfalcada pela saída de outro membro, Catherine, ela seria praticamente forçada a morar com Chaval, também trabalhador da mina, Chaval era um homem embrutecido e às vezes violento.

 As duras condições de trabalho já citadas e o contato com novas correntes de pensamento político como o Marxismo e o Anarquismo (atravéz do personagem Souvarine) aumenta a inquietação de Lantier. É nesse contexto que ele propõe uma organização mais pragmática, como, entre outras coisas a criação de um fundo financeiro, com o objetivo de amparar a categoria no caso da deflagração de uma greve.

 A ocorrência de um acidente que feriu um dos filhos de Meheu em função das precárias condições de escoramento desencadeou uma reformulação no calculo salarial dos trabalhadores, a mudança, apesar não ser explicitamente contra os trabalhadores, os prejudica na prática. A “pseuda” preocupação com novos acidentes ocasionados por falhas no escoramento gerou novos regulamentos impondo aos trabalhadores uma rotina de escoramento à parte, para isso diminuiu-se em dois cêntimos o valor da vagoneta cheia de carvão.

As medidas tomadas pelo patronato, que na prática reduziu salários tensionaram de tal maneira a situação entre as classes que a deflagração de uma greve se tornou inevitável. Étienne Lantier tomou a frente do movimento. O movimento se espalhou e em pouco tempo outras minas da região também deflagraram greve. Eles acreditavam que conseguiriam negociar com os patrões persuadindo-os a aceitarem as reivindicações dos trabalhadores, no entanto logo perceberam as dificuldades, quase intransponíveis de negociação com os patrões o que arrastaria a paralização por meses, a situação citada só aumentou a miséria dos trabalhadores e consequentemente as insatisfações, até mesmo dentro do próprio grupo grevista, que não demorou a voltar às críticas para Lantier.

A situação se agravaria ainda mais quando o patronato decidiu contratar operários belgas para substituir os grevistas, para garantir essa iniciativa convocaram um pelotão miliciano que posicionou seu regimento no entorno da mina Voreux, a partir daí a trama ganha dramaticidade, pois gerou ainda mais revolta nos trabalhadores e motivou o enfrentamento entre trabalhadores e milicianos, confronto teve, entre outras consequências trágicas o assassinato de Meheu.

O abalo emocional ocorrido após morte de Meheu acometeu a todos desestabilizando o movimento, a filha de Meheu “Catherine”, que a essa altura já havia sido abandonada por Chaval e retornado pra casa de sua mãe, e o agora desacreditado e altamente questionado pelos próprios trabalhadores Lantier decidem voltar a trabalhar na mina, atitude sobre a qual Maheude se posiciona fortemente contrária, ameaçando quem optasse pelo retorno ao trabalho.

Mesmo enfrentando os protestos de Maheude, Catherine e Lantier, decidiram voltar ao trabalho, accontece que Souvarine, personagem anarquista do filme que desde o início se mostra cético quanto aos resultados positivos de uma negociação sem violência, preparou um atentado a mina Voreux, após a sabotagem a mina foi inundada e diversas galerias da ficaram submersas muitos funcionários morrem outros ficam presos, casos de Catherine, Lantier e Chaval. Encurralados e sem perspectivas de resgate Chaval tenta abusar de Catherineé atacado por Lantier que tira sua vida atirando contra ele uma grande pedra.

A película, portanto demonstra uma clara preocupação em fazer uma abordagem ampla que inclua não só a dimensão material daqueles trabalhadores, mas também o impacto da mesma na vida dos personagens, um bom exemplo desse esforço é a cena protagonizada por Catherine, Lantier, presos, os dois discorrem sobre as diversas versões que a vida deles poderiam ter, inclusive a do sentimento despertado em ambos desde que se viram pela primeira vez, naquele lugar porém, não havia espaço para o romantismo, a penosa realidade moldava tudo ao seu gosto e assim todas as possibilidades de relação dos dois foram barradas  por uma realidade cruel e impeditiva.

 A narrativa, ao abordar o modo de vida daquele grupo de trabalhadores pelo viés do ambiente de trabalho e subsistência dos mesmos, nos permite observar a realidade social das mulheres proletarizadas, elas são claramente posicionadas em uma situação ainda pior do que as dos homens proletarizados, a entrada de Lantier na mina só foi possível em função do falecimento de uma mulher, Fleurance, o personagem não chega a aparecer no filme, e a causa de sua morte, apesar de ser atribuída por Meheu a excesso de bebida (Genebra), no entanto, e aqui cabe exercitar o método criado por Carlo Ginzburg Paradigma Indiciário, que trabalha rastreando sinais tal como um caçador, pode-se deduzir com alguma margem de segurança que Fleurance teve sua saúde prejudicada pelas péssimas condições em que realizava seu trabalho. Na dimensão afetiva a situação das mulheres são igualmente ruíns elas quase sempre são submetidas aos desejos dos homens em muitas ocasiões com uso da violência como ocorreu entre Catherine e Chaval

O personagem “Boa Morte” protagoniza mais uma cena de forte simbolismo, a jovem “Cécile” pertencente à burguesia visita a casa de Maheudea a fim de realizar uma ação caridosa doar sapatos e comida, nesse momento o velho “Boa Morte” parece reunir suas poucas forças para realizar uma ação violenta e representativa, ele se levanta e ataca Cécile a sufocando com as mãos até leva-la a óbito, uma das interpretações possíveis dessa cena é a de que ela representaria a luta de classes o onde a burguesia é esmagada a  partir  da  consciência  que  é  tomada  pela  classe operária.

No final do filme Lantier, já se despedindo dos funcionários da mina e recebendo olhares de reprovação de muitos encontra surpreso Maheude, ela que se posicionara radicalmente contra o retorno ao trabalho, agora é ela e a filha Jeanlin, quem sustentam a família, uma vez que seus outros filhos Leonore, Henri e Maxime ainda eram muito novos e Boa Morte havia perdido a pensão. Esse desalentador encontro mostra um Étienne Lantier desesperançado, em sua conversa demonstra frustação mas é consolado por Maheude que diz reconhecer que ele de nada teve culpa do desfecho do movimento grevista.

 Para o último ato a produção do filme preparou uma cena antológica, após chegar repleto de esperanças e logo após acreditar firmemente que a organização da classe trabalhadora, da qual ele era parte, junto com a luta traria como consequência a melhoria das condições de vida do trabalhador, Étienne Lantier caminha e parece deixar para trás muito da esperança que trouxera quando chegou, se distancia deixando para trás as lembranças de Catherine, cujo ultimo suspiro o deu em seus braços balbuciando que estava feliz. Mas, também levava, afinal nem tudo se perdeu algo ficou, aprendeu-se. Ali, foi lançada a semente e germinou, isto é brotou as primeiras lutas que doravante seriam constantes em um contexto de mudanças onde as relações burguesia proletariado davam, de maneira desigual e violenta, seus primeiros passos.


Alan Cardoso Ferreira Santos

Graduando em História (Licenciatura) UFBA

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Quem conheceu o Brasil, do início dos anos 2000, definitivamente tem dificuldade de entender o país do pré e pós-impeachment de Dilma Rousseff até o presente momento (15/04/2020)


... Quem conheceu o Brasil, do início dos anos 2000, definitivamente tem dificuldade de entender o país do pré e pós-impeachment de Dilma Rousseff até o presente momento... A “força tarefa” que uniu os poderes judiciário, legislativo e a mídia entre outros setores da sociedade para arrancar da presidência, sem crime de responsabilidade, uma PRESIDENTA eleita legitimamente provocou mudanças profundas e inesperadas no “tecido social brasileiro” e, sem dúvidas será, doravante, objeto dos mais diversos estudos e análises... ... No entanto, não há dúvidas de que uma característica marcante desse movimento que posteriormente se configurou sob forma do “bolsonarismo” é o negacionismo científico......  Nega-se tudo o que é produzido pela universidade... Todavia, Setores específicos do universo acadêmico tiveram a primazia nesse processo, as ciências humanas eram o alvo desde 2016, “ali” se discutiu na Câmara a proposta de diluição das disciplinas de Filosofia e Sociologia durante o ensino médio, mudando seu status, a partir dali elas não necessariamente seriam disciplinas obrigatórias, não houve reação (Com raras exceções dos próprios setores envolvidos). O negacionismo avançou dentro do modelo ideológico que ganharia as eleições de 2018, Agora não só História, Filosofia, Sociologia, Geografia eram negados, o jornalismo passou a ser alvo, e a “produção de fakes news” por grupos patrocinados por partidos políticos pretendiam substituir a “velha mídia”, jornalistas profissionais passaram a ser desrespeitados, mas era “necessário o sacrifício para tirar o PT”, com a eleição de Bolsonaro viu-se que havia-se ido longe demais... Acenderam-se as luzes de alerta, e hoje veículos que engajaram no GOLPE DE 2016 passaram a ter sua liberdade questionada, mas já era tarde...
A Pandemia trouxe a fase mais nefasta do negacionismo (até agora), a negação não é mais apenas das humanidades incluiu-se aí a “ciência queridinha” do modelo político vigente, a medicina. Médicos e centros de pesquisas farmacêuticas bem como orientações da Organização Mundial de Saúde passaram a ser relativizadas e questionadas em um momento onde tanto se depende da ciência no embate contra o Covid-19. Nos resta continuar lutando, contra o anticientificismo, contra a ignorância política a favor do jornalismo livre honesto e sobretudo para que tudo isso passe logo.


Alan Cardoso

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Houve deportações em massa do Brasil de volta para a África? O que Carneiro da Cunha afirma ter acontecido, de fato, em relação ás deportações?


Houve deportações em massa do Brasil de volta para a África? O que Carneiro da Cunha afirma ter acontecido, de fato, em relação ás deportações?


 No que concerne à primeira parte da questão, se houve deportação, em massa, de Africanos escravizados para a África? A autora sinaliza que não houve. Ela ressalta, porém, que “há indícios (...) de que (...) as camadas dominantes (...) Na primeira metade do século XIX, pensava seriamente na deportação maciça da população negra, esse, segundo ela, era um pensamento corrente entre eles, Carneiro da Cunha assegura que, não faltou vontade da elite brasileira da época em levar a frente o projeto das deportações, todavia este esbarrava no entrave financeiro, (foram sobretudo as precárias finanças do Império que impediram a consecução de tão grandiosos projetos, Página 110, linha 33). Segundo o argumento da autora era necessário recursos para custear a dispendiosa logística. Tal empreendimento demandava o estabelecimento, por parte do governo, de uma colônia em África, à imitação das que possuíam os americanos do norte, e ainda, fundos suficientes para a compra do local, transporte dos escravos libertados, aquisição dos instrumentos e utensílios necessários à sua subsistência no primeiro ano.
 Para melhor compreender as razões pelas quais “esse projeto” (deportações em massa de Africanos de volta pra África) veio á tona, é preciso conhecer o contexto histórico brasileiro em meados do século XIX. Existia uma necessidade de se criar um projeto de nação, tendo como base, “ideais liberais”, o que antagonizava gritantemente com a heterogeneidade populacional, marcada pela “forte presença de pessoas negras”. A autora relata citando o cronista francês Tollenare que: “Os homens de cor os embaraçam, página 108, linha 09". A ideia mestra, desse projeto de nação defendida, entre outros, por José Bonifácio é de que “uma nação tem de ser homogênea para ser legítima, tem de ser homogênea para ser estável também, e até plausível”. A ideia de homogeneidade era, segundo Carneiro da Cunha, uma tentativa de aproximação da noção de “Estado-nação” europeia e a homogeneidade necessária à existência da nação passava pela exclusão dos negros. Uma nação de livres, sim, mas de livres brancos. Burlamaqui, (cientista brasileiro) e anti escravista, é explícito: “É também certo que as duas raças igualmente livres não podem viver debaixo do mesmo governo, a natureza, o habito e a opinião tem estabelecido entre elas barreiras indestrutíveis, página 109, linha 01”. Para Francisco Gonçalves Martins, presidente da província da Bahia que chegou ao cargo em uma época crucial, a do término efetivo do tráfico africano, era preciso favorecer o trabalho livre nas cidades, excluindo porém os africanos libertos. Estes, em nome da segurança pública, são encorajados a voltar para a África.
 Diante do exposto, torna-se cristalino o forte desejo das elites em desfazer-se da massa populacional negra acumulada durante a escravidão, nesse contexto ganha força a ideia de deportação. Desejo de deportação era tão grande que, citando Pierre Verger a autora cita um fato em que, aparentemente, o chefe da polícia da Bahia chegou a tentar impor a um navio holandês que levasse para El Mina (na costa da atual Gana) africanos libertos que se achavam presos. Isso sem sequer o governo pagar a passagem, (P. Verger. 1968: 538). Ainda citando (Verger, 1966: 359 363-4), Carneiro da Cunha esclarece que, sem meios (recursos financeiros) para fazer uma colônia em África, o que na prática ocorria era a execução de leis repressivas, o vice-cônsul inglês da Bahia, Wetherell, menciona que a posse dos "elegantes escritos árabes" era o suficiente para a polícia clamar por conspirações e assassinatos, insurreições de escravos e matanças A pós a Revolta dos Malês, e a criação da lei de 13 de maio de 1835, que permitia "reexportar africanos forros de qualquer sexo, suspeitos de promover de algum modo a insurreição de escravos", além dos 150 africanos libertos deportados, setecentos pediram passaportes para fora do Império.
 Era, portanto unanime o desejo, entre as elites de “livrar-se”, através da deportação, dos negros escravizados, assim surgia diversas narrativas a fim de justificar tal procedimento, uma delas é a do deputado pela Bahia, Calmon du Pin e Almeida que foi também ministro das Relações Exteriores, ao defender a deportação ele atribui a “Divina Providência” a possibilidade de, caso ocorresse, ao mesmo tempo que se extirpava do Brasil a ameaça de insurreições, se cedia o lugar a uma "mão de obra mais útil" (Imigrante Branco), além disso formava-se em África "um núcleo de população, ou talvez um novo Estado que, participando da civilização (Brasileira) e falando nossa língua, contribuirá um dia para a extensão de nosso comercio e nossa indústria nascente.
 O que pode ser observado no trabalho da Carneiro da Cunha é que não havia definitivamente um mínimo reconhecimento da importância da mão de obra escrava na construção do país, pelo contrário estes eram vistos a partir de meados do século XIX como uma espécie de estorvo, um empecilho para o desenvolvimento, este presente na mão de obra livre branca de imigrantes europeus, os negros, aquela altura, após serem explorados das formas mais desumanas possíveis, precisavam ser descartados, “jogados para fora do império”, (em qualquer lugar da Africa, página 110, linha 17),de preferência sem custo algum, em gritante paradoxo ás riquezas e fortunas geradas por essa mão de obra.

Aula “de campo” Tema A Importância e Atuação das Câmaras Administrativas e das Misericórdias (Santas Casas) no Império Marítimo Português.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA 
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA 
DISCIPLINA: HISTÓRIA IBÉRICA 
DOCENTE: ANA PAULA MEDICCI 
DISCENTE: ALAN CARDOSO FERREIRA SANTOS 

No dia 20 de Outubro de 2018, (Sábado Pela Manhã) conforme previsto no Cronograma do Componente História Ibérica, foi realizada uma aula “de campo”, cujo tema era a importância e atuação das Câmaras Administrativas e das Misericórdias (Santas Casas) no Império Marítimo Português, coordenada pela docente Ana Paula Medicci. 

A aula foi dividida em duas etapas a primeira parte teve início em frente ao prédio da Câmara de vereadores de Salvador e o tema era as Câmaras coloniais, ali a professora realizou a introdução da atividade falando, tendo como base o capítulo XII (Conselhos Municipais e Irmãos de Caridade) do livro, O Império Marítimo Português de C. R. Boxer, discorreu-se primeiro sobre a atuação das Câmaras e também das Misericórdias, classificadas por Boxer, como pilares da sociedade colonial portuguesa. Ambas as instituições adaptavam a administração das diferentes regiões e culturas do Globo, onde o Império possuía colônias ou negócios as características de Portugal. 

Os conselhos municipais seguiam, segundo Boxer o padrão dos da metrópole, mas haviam naturalmente diferenças, segundo o autor, muitas vezes estes (Conselhos Municipais) datavam da primeira ocupação ou da fundação da vila ou cidade como o da Bahia em 1549, edificado no local onde, posteriormente foi construído o prédio da Câmara de Salvador, onde estávamos reunidos (Página 272, linha 09). 

A docente falou também sobre algumas características dessas municipalidades, as mesmas eram fundadas seguindo um modelo metropolitano específico, a Bahia, por exemplo, escolheu o modelo da cidade do porto, recebendo assim, após solicitação, os privilégios desta cidade. 

Ainda discorrendo sobre as câmaras a professora falou sobre como essas eram formadas, com, dois a seis vereadores, dois juízes ordinários e o procurador, esses tinham direito de voto nas reuniões dos conselhos e eram conhecidos como oficiais da Câmara. Havia ainda outros membros como o escrivão, tesoureiro, e oficiais subordinados que não possuíam direito de voto, algumas câmaras possuíam representações das classes trabalhadoras como comerciantes e artesãos. As câmaras estavam sujeitas a inspeções feitas por um corregedor da comarca ou juiz distrital e os rendimentos delas eram oriundas de rendas das propriedades casas de aluguel e impostos entre outros meios. 

Os membros das câmaras, assim como os das misericórdias, (veremos depois) eram pessoas privilegiadas, não podiam ser presos arbitrariamente e eram dispensados do serviço militar, durante o mandato, existia ainda um a preocupação com a composição classista e racial das câmaras coloniais e a recomendação de que se preservasse a pureza do sangue português o que não pôde, segundo o autor, ser observado em locais como Benguela e São Thomé, onde, segundo ele as mulheres brancas "brilharam pela ausência durante séculos" o autor salienta que na Bahia onde havia uma maior penetração de sangue branco vindo de Portugal foi possível manter o elemento branco europeu dominante por um período maior. 

O escritor baiano, Gregório de Matos é citado pelo autor (Boxer) no momento em que este aborda a figura dos, reinóis, (homens que emigravam de Portugal), muitas vezes de "baixo nascimento" que nas colônias asiáticas e africanas casava-se com mulheres locais de famílias tradicionais, todavia com sangue mestiço, permitindo a predominância portuguesa na elite local, Gregório de Matos afirmou em uma sátira que isso na Bahia era norma padrão, o que o autor chama de exagero. 

O autor Boxer cita Gilberto Freyre no intuito de questionar sua tese de que o negro teria sua ascensão social incentivada no Brasil, o autor discorda e diz que pelo contraria foi retardada ele salienta ainda ser muito difícil que um mulato, mesmo de pele clara, tenha conseguido ser vereador na Bahia ou Rio de Janeiro. 

A parte da aula sobre “as Misericórdias” teve uma breve introdução, ali mesmo, em frente à Câmara de Salvador em seguida fomos até o museu da Misericórdia, mantido até hoje pela Santa Casa e localizado na antiga e primeira sede dessa instituição na Bahia. Ali a instituição disponibilizou uma guia, que nos apresentou o museu começando pela capela, a guia informou sobre as características dos antigos membros da misericórdia, tratava-se, (obrigatoriamente) de homens que ocupavam o topo da pirâmide social da época, além disso, explica Boxer, era preciso Ser: de “boa consciência e reputação”, tementes a Deus, modestos, caridosos e humildes e ainda possuir: Pureza de sangue, não ter má reputação, de idade adulta (mais de 25 anos) e não ser suspeito de servir a misericórdia em troca de pagamento, se fosse lojista ou artesão, deveria ser o patrão ou proprietário era indicado também ser inteligente e saber ler e escrever. O autor duvida que tais exigência tenham sido seguidas “á risca”, sobretudo nas colônias, onde possivelmente houve abusos, todavia pondera ele, de modo geral as Misericórdias mantiveram padrões “surpreendentemente elevados de honestidade”. 

As Misericórdias, portanto, eram lugar de prestígio social, Boxer escreve na Página 278, linha final, que “Quem não estava na Câmara estava na Misericórdia. Rezava o provérbio alentejano, segundo autor o ditado dizia que quem quisesse viver bem a grande e com liberdade deveria tentar tornar-se vereador do conselho municipal ou tornar-se irmão da Misericórdia”. Apesar de, conforme o autor, ser obrigado ter o sexo masculino para ingressar nas Misericórdias, aqui na Bahia houve exceções, pelo menos a partir do século XIX, como o da Sra, Militana Martins Ramos, cujo quadro encontra-se exposto, ao lado de outros, no museu, esta senhora foi doadora de polpudas contribuições para a instituição. 

Os ramos coloniais da Santa Casa, segundo Boxer, foram fundados, geralmente ao mesmo tempo em que eram instituídos o Senado da Câmara local, em algumas colônias a misericórdia era mais antiga. O autor explica que os compromissos ou estatutos da Misericórdia variavam ligeiramente de acordo com local e época, mas, só diferiam dos de Lisboa em pormenores mínimos. 

Na visita ao museu em Salvador, pôde-se perceber que há uma preocupação por parte da instituição em preservar sua história o que pode ser comprovado observando as excelentes condições de preservação do prédio e das peças ali expostas. 

Para o cargo de provedor, apenas fidalgos de autoridade, prudência e virtude eram aceitos além, de ser um Senhor com "muito tempo livre" requisito, que segundo o autor quase sempre era desrespeitado, segundo Boxer, na Bahia a mesa foi ocupada durante séculos pela aristocracia rural local dos senhores de engenho, apenas nobres eram escolhidos. Os fundos das Santas Casas provinham de caridade e dos legados particulares, em Luanda a Misericórdia recebia uma porcentagem das rendas adquiridas o comércio de escravos. 

Os deveres da irmandade da Misericórdia eram definido como sendo sete obras espirituais e corporais compreendendo: Dar de Comer a quem tem fome, Dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, visitar os doentes e presos, da abrigo a todos os viajantes, resgatar os cativos e enterrar os mortos. 

Em muitas localidades (caso de Salvador) a Misericórdia mantinha um hospital, ali se recebia doentes de maneira gratuita, todavia conforme explicou a guia do museu, “os donos” dos escravos doentes de Salvador pagavam pelos serviços. Sobre o hospital, a guia informou que possuía uma enfermaria onde os doentes ficavam, a sala permanecia com as janelas fechada pois havia o receio de que as enfermidades contaminassem os transeuntes, caso as janelas fossem abertas. 

A guia falou também sobre o ultimo dos “deveres da irmandade da Misericórdia” Sepultar os mortos, segundo ela no século XIX foi proibido o sepultamento em igrejas na Bahia, pois havia receio de infecções e contágios de doenças, tal regulamentação causou revolta na população. Um ano depois a Santa casa inaugurou, após um trabalho de educação, o Cemitério do Campo Santo, ela já administrava um pequeno cemitério de escravos no Campo da Pólvora. A partir de 1844, todos os sepultamentos passou a ser no campo santo . 

A Santa Casa da Bahia, conforme explicou a guia, recebia crianças enjeitadas pelos pais, sendo a primeira Roda dos Expostos instituída no Brasil, diante de uma réplica da roda dos expostos, a guia ponderava que a entrega de crianças a essa instituição era, muitas vezes visto pelos pais como uma oportunidade dessas crianças terem uma educação digna. 

A Atividade proposta e executada pela docente, foi de grande utilidade para a turma (História Ibérica noturno 2018.2), pois ao mesclar o estudo da historiografia sobre as Câmaras e as Misericórdias, através do autor (C. R. Boxer), com a visita “em loco” possibilitou uma aproximação entre conteúdo estudado e as “reminiscências” dessas instituições em ultima instancia aproximou a universidade á comunidade apresentando uma alternativa cognitiva e pedagógica bem-sucedida ao aprendizado.

quarta-feira, 25 de julho de 2018







UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA)
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS (FFCH)
DISCIPLINA SEMINÁRIO TEMÁTICO (FCHD94)





ENSAIO SOBRE O CONTEÚDO APRESENTADO ATRAVÉS DOS TEXTOS DE TRÊS DOS AUTORES CUJOS TRABALHOS FORAM DESENVOLVIDOS NA DISCIPLINA SEMINÁRIO TEMÁTICOS NO SEMESTRE 2018.1.







                      DOCENTE: J. T.

DISCENTE: ALAN CARDOSO FERREIRA SANTOS






25/JULHO/2018






 INTRODUÇÃO:
Esse documento buscará estabelecer, conforme proposto, um “diálogo” entre três, dos diversos textos e autores trabalhados no decorrer do semestre 2018.1, do componente Seminário Temático do curso de licenciatura em história da Universidade Federal da Bahia UFBA. A escolha dos textos e autores levou-se em consideração o tema proposto por cada um, feitiçaria e bruxaria, dois deles, na Europa do período moderno e um na África, no século XX. Ao decidi sobre esses autores naturalmente assumi o compromisso de estabelecer as importantes e necessárias diferenças conceituais e metodológicas, entre eles, bem como evitar anacronismos e outras anomalias conceituais dada as dieferenças temporais e metodológicas entre os documentos, por outro lado, ao tentar estabelecer tais conecções terei a oportunidade de trabalhar com o contraditporio, com o diferente e isso certamente enriquecerá o texto.
 Os documentos selecionados são: Feitiçaria e Cultos Agrários nos Séculos XVI e XVII, capítulo 3, do livro: Os Andarilhos do Bem, do historiador Italiano Carlo Ginzburg; A Bruxaria É Um Fenômeno Orgânico E Hereditário, capítulo 1, do Livro: Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande, do antropólogo inglês Edward Evan Evans-Pritchard e: A Feitiçaria na Europa Moderna da historiadora brasileira Laura de Melo e Souza.
 O assunto Bruxaria e Feitiçaria, tratado em qualquer espaço e em qualquer tempo é sem dúvidas um tema emblemático e extraordinário, é lidar com tradições, práticas e imaginário que à séculos acompanham a cultura de vários povos de várias partes do mundo. Na Europa, até o Renascimento, era assunto recorrente, não só nas camadas populacionais mais populares era recorrente igualmente entre os grandes intelectuais, essa é inclusive a abordagem realizada por, José Pedro Paiva em sua obra Bruxaria e Superstição num País Sem Caça as Bruxas, ali este autor discorre que bruxaria e feitiçaria era pauta para escritos de intelectuais reconhecidos até hoje como Jean Bodin, que foi, entre outras coisas, fundador da sociologia política e da história comparada das formas políticas, e que concomitantemente a isso foi severo perseguidor de bruxas e autor de um enorme tratado sobre as formas de as perseguir. Na Àfrica, conforme veremos, a bruxaria era algo implícito em várias culturas, segundo E. E. Evans-Pritchard, a bruxaria desempenhava um papel em todas as atividades da vida (...), Não existe nicho ou recanto da cultura zande em que não se insinue.  Foi no intuito de trabalhar os conceitos diferentes de Bruxaria em diversas localidades do planeta e em diferentes períodos de tempo que se pensou em selecionar três textos que contemplem essa característica. Nesse primeiro momento o esforço será tornar claro os conceitos de feitiçaria e bruxaria de cada uma das comunidades estudadas a partir das pesquisas dos autores selecionados para esta atividade, naturalmente, como já foi dito, existe a preocupação em estabelecer, no processo de “encaixe e desencaixe” das narrativas, sobre o tema e estabelecimento de possíveis diferenças e similaridades as devidadas distancias temporais, geográficas e conceituais entre os documentos.
 O antropólogo E. E. Evans-Pritchard, em sua pesquisa realizada em comunidades Azande, localizada no Sudão anglo-egípcio, durante a década de 1920 e publicado em 1937, concluiu que para o povo “Zande” a bruxaria e a fetiçaria, são coisas distintas, segundo o texto a bruxaria é uma substância existente no corpo dos bruxos, o autor não deixou claro em sua pesquisa, em que órgão do corpo o povo Zande “guardaria” a substancia bruxaria, e a descreveu como uma pequena bolsa ou inchação enegrecido e oval, dentro da qual costuma ser encontrada uma variedade de pequenos objetos, em princípio um bruxo não apresenta sintomas externos de sua condição.
 Mangu “bruxaria” é, para o povo Azande, assim como foi descrito acima, um fenômeno organico,  e, segundo o autor, também hereditário, sendo, portanto, algo que pode ser herdado. O texto afirma que a bruxaria é transmitida por descendência uni linear, dos genitores a seus filhos, isto é, os filhos de um bruxo são todos bruxos, mas suas filhas, não; as filhas de uma bruxa são todas bruxas, mas seus filhos, não.
Laura de Mello e Souza, em seu livro Feitiçaria na Europa Moderna faz uma descrição bem ampla sobre bruxaria e feitiçaria no tempo e espaço proposto (europa moderna), sua abordagem tem início no século XIV europeu. Ao falar acerca da bruxaria, a autora discorre sobre esse emblemático “personagem” o descrevendo em diversas perspectivas, entre elas, assim como o fez Evans-Pritchard, sobre os Azande, no aspecto da hereditariedade, todavia com diferenças significativas, se entre os Azande (Século XX), os filhos de um bruxo são todos bruxos, mas suas filhas, não e as filhas de uma bruxa são todas bruxas, mas seus filhos, na europa (Período Moderno), segundo a autora, não havia esse condicionante, Laura de Mello e Souza, cita o caso ocorrido em 1620 (Século XVII), no Alto Saona, segundo o texto, esta foi  a primeira acusação judicial feita, na europa, a uma acusada de bruxaria tendo como base o fato desta (Anne Humbert) ser filha de um bruxo (Pierre Humbert), todavia, feitiçaria, para a autora, eram pessoas responsáveis pela fabricação poções e filtros mágicos com vistas a solucionar problemas com os quais se achassem envolvidas, conceito em muito diferente das do Azande, que como foi visto era caraterizada por uma espécie de “anomalia” biológica e anatomica.
 O historiador italiano Carlo Ginzburg em seu livro Os Andarilhos do Bem, encontra em suas pesquisas um movimento que foi identificado, através das confissões de seus adeptos, como “uma seita organizada militarmente” que tinha o objetivo de combater contra feiticeiros e bruxas, através de batalhas, batalhas essas realizadas “em espírito”, portanto enquanto “combatiam” deixavam seus corpos na cama. Os “Benandanti”  “Andarilho do Bem”, em princípio, segundo o autor, não eram considerados feiticeiros, pelo contrário, eles afirmavam que combatiam em nome da fé cristã e da fertilidade dos campos e contra feiticeiros e bruxas. O santo ofício demorou um pouco até atribuir similaridades sólidas entre Benandati feiticeiros e bruxas, desde o início do período moderno na europa (Séculos XIV e XIV), foi se construindo um olhar sobre a figura das bruxas, atribuindo a estas, caractéristicas bem específicas e sobretudo esteriotipadas imputadas por suas práticas, ou (pseudo) práticas, a criação do conceito de feiticeira na europa pesquisada por Laura de Mello e Souza leva em consideração também o comportamento e até mesmo características físicas. Entre os Azande ser um bruxo não era considerado algo necessariamente condenável, mas sim o exercício dessa particularidade, um homem nunca pergunta aos oráculos, único poder capaz de detectar a localização da substância-bruxaria nos viventes, se um determinado indivíduo é ou não bruxo. O que ele pergunta é se, nesse momento, aquele homem lhe está fazendo bruxaria.
 Laura de Mello e Souza assim como E. E. Evans-Pritchard, entre os Azande, na África, estabelece diferenças entre feitiçaria e bruxaria, mais a frente trabalharemos mais, sobre tais diferenças conceituais, no texto Feitiçaria na Europa Moderna, fica evidente que o modelo concebido na época da figura da bruxa era, como já foi dito, carregado de preconceitos e esteriótipos, apresentavam-na como: velha, enrugada, vesga, desdentada, com verrugas, grisalha e com mãos ossudas, corcunda, roupas sem forma definida e preta, chapeu pontiagudo e gargalhada aterrorizante, ela afirma ainda que as mulheres sozinhas, solteiras ou viúvas constituiam a maioria das acusadas nos processos, diz ainda que se fossem feias e velhas, a suspeita ficava ainda mais forte.
Carlo Ginzburg, esclarece em sua pesquisa sobre os “Benandanti” que, apesar desta, ser uma seita secreta, os Andarilhos do Bem, quase sempre revelavam suas atividades e, como sabemos, seus membros não as consideravam feitiçaria ou bruxaria, aos poucos porém, sobretudo a partir das denuncias, investigações e abordagens da inquisição, suas práticas passaram a ser “associadas” ás de feitiçaria, chamando a atenção dos inquisidores.  Ginzburg esclarece que para se tornar um benandati era necessário nascer “empelicado”, isto é, sem romper a membrana que envolve o feto, Os Andarilhos do Bem, tinha a missão, sem alternativa de recusa, de quando convocados lutar, junto com seu exército, contra feiticeiros e bruxas a favor da fé e da fertilidade dos campos nos quatro tempos, em clara alusão as estações do ano, quando venciam “as batalhas noturnas” havia abundancia durante o ano e quando eram os adversários que venciam, reinavam as tempestades que davam origem a penúria”.

 Assim como no caso dos Andarilhos do Bem, onde práticas rurais, como as desempenhadas pelos “Benandanti” foram associadas á bruxaria, entre os Azande, segundo, E. E. Evans-Pritchard, a bruxaria desempenhava um papel em todas as atividades da vida, inclusive na agricultura, pesca e caça (Pág: 49), Não existe nicho ou recanto da cultura zande em que não se insinue. Se uma praga ataca a colheita de amendoim, foi bruxaria; se o mato é batido em vão em busca de caça, foi bruxaria; se as mulheres esvaziam laboriosamente a água de uma lagoa e conseguem apenas uns míseros peixinhos, foi bruxaria; se as térmitas não aparecem quando era hora de sua revoada, e uma noite fria é perdida à espera de seu vôo, foi bruxaria; se uma esposa está mal-humorada e trata seu marido com indiferença, foi bruxaria; se um príncipe está frio e distante com seu súdito, foi bruxaria; se um rito mágico fracassa em seu propósito, foi bruxaria; na verdade, qualquer insucesso ou infortúnio que se abata sobre qualquer pessoa, a qualquer hora e em relação a qualquer das múltiplas atividades da vida, ele pode ser atribuído à bruxaria.
 Laura de Mello e Souza ressalta que vários autores localiza a ocorrência do Sabbat como marco para distinção entre bruxaria e feitiçaria na europa, o Sabbat foi descrito pela autora nos seguintes termos: (Grande assembleia demoníaca realizada em uma clareira frequentadas por homens mulheres das mais diversas condições sociais presidida pelo demônio ou um dos demônios auxiliares. O pacto com o demônio, seria o elemento determinante dessa diferença (Entre Bruxas e Feiticeiras), só as bruxas possuíam pactos demoníacos, enquanto as feiticeiras, como falamos anteriormente, encarregavam-se de fabricar poções e filtros mágicos, as bruxas realizariam o pacto, sujeição ao príncipe das trevas e conjuro de demônios, invocados como auxiliares nas atividades maléficas, as bruxas, ao contrário das feiticeiras realizavam suas atividades de forma coletiva em uma espécie de seita demoníaca.  Segundo a prática antropológica a feiticeira invoca forças maléficas e trabalha com elas, enquanto a bruxa, por sua vez é a própria fonte do mal, que dela emana. Essa diferenciação não é desprovida de problemas há idiomas como o francês que não diferenciam uma prática da outra.
E. E. Evans-Pritchard estabelece algumas diferenças entre o que seria feitiçaria e bruxaria entre os “Azande”, segundo ele, o povo “zande” acreditava que os feiticeiros podem fazê-los adoecer por meio da execução de ritos mágicos que envolvem drogas maléficas. As bruxas, por sua vez, podem lhes fazer mal em virtude de uma qualidade intrínseca. Um bruxo não pratica ritos, não profere encantações e não possui drogas mágicas. Um ato de bruxaria é um ato psíquico. Podemos notar aqui que o autor descreve práticas de bruxaria e feitiçaria sempre em uma perspectiva maléfica, um pouco diferente de um dos conceitos estabelecidos no texto Recriar África do autor James Sweet que ao falar de bruxaria e feitiçaria nos séculos XVII e XVIII no contexto africano dá um caráter mais ambíguo a essas terminologias, segundo James Sweet, na conjuntura citada (séculos XVII e XVIII), muitos observadores ocidentais reduziram implicitamente as expressões religiosas africanas ao seu potencial para o mal, ainda segundo ele, uma análise mais equilibrada teria de reconhecer que a capacidade de controlar o mal era apenas um aspecto de um conjunto complexo de poderes religiosos.  Os Azande, explica Evans-Pritchard, diferenciam claramente os bruxos dos feiticeiros. Contra ambos empregam adivinhos, oráculos e drogas mágicas.
A exemplo da autora Laura de Mello e Souza, Carlo Ginzburg, também apresenta o “advento” do Sabbat, como divisor de águas no que diz respeito a definição das praticas de bruxaria,  Ginzburg, em sua pesquisa sobre "Os Andarilhos do Bem" na região do “Friul”, nordeste da Itália, com recorte que vai do final do século XVI até meados do século XVII, valeu-se de fontes inquisitoriais, para desenvolver sua tese sobre o processo em que, uma seita, com práticas e objetivos que claramente estavam ligados a atividades de fertilidade rural, ao ser associado ao Sabbat, ganhariam conotações de bruxaria, passando a ser, incluídos nos conceitos de demonologia e sendo assim perseguidos pelo Santo Ofício. O autor (Carlo Ginzburg) trabalha, em seu livro, na tênue linha que estabelecia uma divisão entre o que era considerado uma atividade antiga de cunho rural avoltada pra fertilidade e o que se considerava práticas de bruxaria ou feitiçaria.
 Enquanto entre os Azande a bruxaria poderia até mesmo causar um mal maior como a morte de uma pessoa, sendo, possível a família da vítima iclusive reivindicar a vingança desse ente morto, um dos conceitos de malevolencia apresentada por James Sweet, era justamente a condenação de práticas que viesse a prejudicar outros, segundo ele, reccorrer a poderes religiosos para prejudicar outras pessoas ou assegurar seu próprio sucesso, em vez de contribuirem para o bem comum, era considerado malevolente e um dos sintomas clássicos da malevolência para James Sweet era era o sofrimento injusto por parte da vítima. No “Friul”, narrado por Gizburg, as ações maléficas dos bruxos e feiticeiras eram diversas, todavia, vencer as batalhas noturnas contra os “Benedanti” eram uma das mais temidas, pois, causavam um periodo de infertidade, gerando penuria, poderiam ainda, segundo exemplo citado pelo “benendanti” Gasparutto gerar pequenos preujuizos como os causado quando, na volta das batalhas (Entre benandati contra as bruxas e bruxos, em espírito) (...). Acalorados e cansados, se, ao passarem pelas casas, encontram água clara e límpida nos baldes, bebem-na; caso contrário, vão à adega e estragam o vinho”; por isso, aconselha Gasparutto, dirigindo-se (ao padre) Sgabarizza, convém sempre ter em casa água limpa. Outro exemplo que explicita o mal que as bruxas poderiam causar foi citado quando o autor trata do processo de uma mulher, Sra. Florida, esposa de um notário acusada de ser benandate esta, por sua vez em conversa com a vizinha afirma: "O que eles tem contra mim? Se não fossemos nós, Os Benandanti, os feiticeiros comeriam as crianças até nos berços.

Na abordagem da Laura de Mello e Souza, fica claro que o maior “malefício” atribuído as ações de bruxaria era o pacto com o “diabo” e a consequente saída dos caminhos orientados pela igreja, contra esse “mal” estabeleceu-se uma perseguição por parte da Igreja Católica em várias ocasiões beirava a histeria, no texto A Feitiçaria na Europa Moderna são narradas situações onde hábitos hoje considerados comuns como gostar de animais e morar sozinha, entre outros, quase sempre com foco nas pessoas de sexo feminino eram considerados sinais que poderiam levar a pessoa a se tornar uma suspeita de práticas de bruxaria e feitiçaria.

A proposta desse componente, os textos trabalhados e a metodologia utilizada possibilitou um fascinante “mergulho” nesse tema que em princípio suscita no homem contemporaneo o impeto de desconfiança e descrença, todavia, na condição de estudante de história a abordagem desse tema precisa ir além dos eventos narrados, exigi esforço de contextualização, investigar o lugar que tais crenças ocupavam naquela cultura, como bem frisou Laura de Melo e Souza, falando da europa moderna, existia uma lacuna na explicação de crises, epidemias, fome, peste e legiões de marginalizados fatos que, demandavam de explicações plausíveis a compreenção de todos, as bruxas e feiticeiras, ou pessoas portadoras de pensamentos ante hegemonicos pareciam, dentro do contexto cristão, um caminho para explicação de tais problemas. A partir das contribuições da docente Juliana Torres foi possível contemplar esses fenomenos narrados nos textos do componente com um olhar voltado a todas as características, sem separar a crença em bruxaria e feitiçaria e tudo o que isso produzia, do contexto social de cada população de sua forma de vida, analizando esses pormenores é possível diminuir os preconceitos e esteriótipos, para a partir daí, ter uma maior e mais completa compreenção desses eventos e de sua “utilidade” no contexto em que existiram.



REFERENCIA BIBLIOGRAFICAS:

Os Andarilhos do Bem, Carlo Ginzburg
Feitiçaria na Europa Moderna, Laura de Mello e Souza
Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande, Edward Evan Evans-Pritchard
Recriar África,  James L. Sweet
José Pedro Paiva, Bruxaria e Superstição num país sem caça as Bruxas.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Cavaleiros, monges e sabres de luz: O imaginário medieval na saga Star wars, do historiador Ademir Luiz da Silva

Por intermédio do artigo, Cavaleiros, monges e sabres de luz: O imaginário medieval na saga Star wars o historiador Ademir Luiz da Silva, desenvolve, entre outras questões, a diferenciação entre a presença residual de elementos medievais no mundo moderno (reminiscências medievais) e MEDIEVALIDADES, definindo este último como uma espécie de “mitologia medieval” onde a Idade Média aparece apenas como uma referência, por vezes, fugidia, estereotipada explorando o que, no imaginário do período mencionado, é constituído do místico, aventuresco e romântico. Assim, explica ele, certos índices de historicidade estarão presentes em manifestações lúdicas, obras artísticas ou técnicas de recriação histórica (...). No contexto de medievalidade a Idade Média poderá vir a ser uma realidade muito mais imprecisa na inspiração de temas como magos, feiticeiros, dragões, monstros, guerreiros e assaltos a fortalezas, elementos amplamente explorados pelos meios de comunicação de massa e pela indústria cultural. A abordagem do SILVA, Ademir sobre medievalidades, foi devidamente problematizada em sala de aula, sob a mediação do professor Marcelo Lima, naturalmente sem esgota-la ou que se chegasse a um consenso definitivo.

Seguem três exemplos encontrados no artigo, que podem ser diagnosticado como medievalidade.

Podemos identificar características da obra de George Lucas que pode ser definida como medievalidades na linha 43 da pág. 200, o documento diz: O célebre texto de abertura do filme original estabelece, desde o primeiro momento que se vive um momento de crise, de “trevas”, (como sabemos o conceito de trevas, como identificação de um período, foi criado a partir do período que chamamos de modernidade, tendo um claro objetivo de valorização dos tempos históricos comumente conhecido como Renascimento e Iluminismo). A ambientação do filme, claramente baseada nessa perspectiva remontam um “período médio” não necessariamente fiel ao que ocorreu entre os séculos V e XV, caracterizando a conceituação de medievalidade, o que se vê no filme são “tinturas” remanescentes da memória simbólica que ficou do período, sobretudo, baseado na historiografia, portanto a ideia de um período de “crise”, de “trevas” como material simbólico, utilizado por George Lucas, para a ambientalização do filme pode, como já foi dito, ser diagnosticado como medievalidades, uma vez que explora o que esse período deixou de mitológico.

Outra característica, identificada no filme e texto, que pode ser considerada como medievalidade, é a questão monástica, conforme explica o texto em sua página 202 linha 46 O auto aqui trabalha no estabelecimento de semelhanças entre os cavaleiros “Jedi” ás figuras histórica e factuas dos cavaleiros de Cristo. Segundo SILVA, Ademir, Os cavaleiros “jedi” eram detentores do monopólio religioso da Galáxia, eram, além de soldados sacerdotes da Força. Mais a frente na página 205 o autor afirma: Os “jedis” identificam-se como tal perspectiva religiosa, filiando-se a uma profecia que prevê “o equilíbrio da força”, portanto a um “plano divino”, um pouco mais a frente são apresentados como os “guardiões da paz e da justiça na galáxia”, preocupados com o fato de que a desordem instalou-se na República Galáctica. Percebe-se aqui uma clara relação entre os cavaleiros jedi e a tradição heroica relacionada às ordens militares criadas nos tempos das Cruzadas e da Reconquista, sobretudo à confraria monástica dos Cavaleiros do Templo de Salomão. Os Cavaleiros de Cristo. O autor explica ainda que Os Cavaleiros de Cristo eram o resultado da conversão do cristianismo á guerra (pág: 202). Segundo a mística, criada por São Bernardo, os Templários, “Soldado de Deus” eram personagens heroicos (...), misteriosos e de fé inabalável. O autor pontua ainda (Pág. 204) que a ideia de um guerreiro lutando em favor de sua religião “não era de todo estranha”, todavia, no contexto do medievo, a figura de monge-guerreiro de um homem de oração empunhando uma espada, derramando sangue em tempo integral não era de modo algum facilmente assimilável.

Podemos também considerar como uma forma mitológica ou romântica de representação da Idade Média (Medievalidades). O dualismo entre os cavaleiros “jedi” e “sith”, tratam-se, segundo a interpretação de SILVA, Ademir (Pág. 206, Linha 35), de praticantes da mesma religião, todavia, a partir de tradições iniciáticas diferentes, aqui o autor realiza uma argumentação que associa a relação entre as “religiões” jedi e sith com a Cristã e Islâmica, caracterizando a ideia de medievalidade. Mais á frente, (Pág: 206, Linha 03), o autor explica que para os membros da religião de Estado, OS JEDIS, o chamado Lado Negro seria uma espécie de heresia, e naquele contexto, qualquer coisa que os contrariasse deveria ser combatido como impuro e deturpado, todavia, ressalta ele mais á frente. esse chamado “Lado Negro” pode ser, sobretudo, uma perspectiva política de caráter autoritária. Conforme consta na (pág. 205 Linha 38), a energia da Força, em princípio, seria neutra, nem boa nem má. Perspectivas como “lado bom” ou “lado negro” da força são, na prática, abstrações. O uso que se faz dela é que determina, dentro dos padrões comportamentais daquela sociedade, o que é bem e o que é mal.

Pesquisa e Organização: Alan Cardoso
Graduando Curso de História
Universidade Federal da Bahia

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Antiguidade Tardia, Resumo do Capítulo A Sociedade Romana Tardia do Livro A História Social de Roma, do Autor Géza Alföldy,

 Resumo do Capítulo A Sociedade Romana Tardia do Livro A História Social de Roma, do Autor Géza Alföldy, realizado pelo graduando em História Alan Cardoso Ferreira Santos.

Sobre o Autor:
Géza Alföldy nasceu na Hungria, estudou na Universidade de Budapeste onde em 1959, conquistou seu doutorado, é o autor de 30 livros.

 Sobre o Livro:
Data da primeira publicação: 1987, O autor analisa as mudanças estruturadas que se verificaram ao longo de um milênio, na República e, depois, com o Império. A ênfase da sua análise é colocada nos aspectos sociais.

 O que é Antiguidade Tardia?
Antiguidade Tardia denomina um período de tempo “ainda impreciso” que se localiza entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média.



Condicionantes e Características Gerais:

 ... As condições sociais do “baixo império” assentavam-se em grande medida nas estruturas surgidas no período da crise, desde o final da época dos “Antoninos7” até “Diocleciano” (Crise do Século III d.C).
 Géza Alföldy defende a ideia de que as “sequelas” da Crise no século III d.C, permaneceriam até a “Queda do Império” em 476 d.C. Segundo ele, nos governos de Diocleciano (284-305) e Constantino o Grande (306-337), devido a “severas medidas” a situação econômica estava estabilizada até o reinado de Valentiniano I (364-375), mas, as consequências das transformações no século III já eram irreversíveis. Pág. 200

 A organização da antiguidade tardia não foi substituída por uma nova estrutura social, mesmo no século VI, quando o sistema de governo romano já não existia no ocidente. A transição da Antiguidade para a idade media, portanto, não foi repentina, mas fez-se através de uma larga faixa de transformações graduais em que, a queda do império romano, apenas consistiu em um ponto de viragem decisivo, na medida em que significava o colapso do enquadramento político da sociedade Romana. Pag.200.L 8.

Algumas cidades do império até conheceram um ultimo período de prosperidade, mas a produção de mercadorias e comercio jamais voltaram a atingir a prosperidade dos primeiros tempos da era imperial (...). A importância da agricultura como principal fonte de rendimento aumentou, ainda mais que anteriormente, mesmo sofrendo de fraquezas estruturais derivadas de vários problemas, entre eles a falta de mão de obra e por um tipo de agricultura pouco rentável praticada pelos colonos. Pág. 201. L. 01

As dificuldades econômicas aumentaram enormemente após a eclosão da nova crise política desencadeada pelas primeiras migrações sob pressão dos Hunos em (375). Essa crise provocou em pouco tempo a devastadora derrota de Roma para os “Godos” Em Adrianópolis (Pág.201.L13), “atualmente Edirne, na Turquia” no ano de (378). O desastre para o lado romano foi tanto que, em poucas horas, 20 000 dos melhores soldados do império perderam a vida. O próprio imperador Valente, muitos capitães, 35 tribunos, dois altos funcionários do palácio e dois generais pereceram no combate. (Wikipédia) Pág.201.L.9

Em 395 d.C, morre o Imperador Teodósio I, esse fato provocou modificações profundas: O Império Romano foi definitivamente dividido em dois, a parte Oriental ficou sendo administrada por Flávio Arcádio seu filho mais velho, e a parte Ocidental ficou com Flávio Honório (Ainda Adolescente), o Pai deles, Teodósio I, foi o último imperador a concentrar o governo das duas partes do Império Romano. Pág.203.Linha.09 e (Wikipédia)

 A parte ocidental administrada por Flávio Honório foi invadida pelos Bárbaros, tendo como resultado o abandono e a destruição de muitas cidades com terríveis consequências principalmente para a produção de mercadoria e comércio. Até ali jamais tinha ocorrido uma paralisação completa da produção e do comércio e a vida urbana nunca tinha cessado completamente em parte alguma do Império. Pág.201L.13

Já o império Romano do Oriente, Segundo o autor, se encontrava em condições sociais, em parte, mais favoráveis e menos ameaçadas pelos bárbaros, conseguindo “aguentar-se” e reformar, a pouco e pouco, o seu próprio sistema de governo. Pág.203.Linha.10

Esses acontecimentos provocaram mudanças nas relações entre a cidade e o campo, agora, esta ultima ganha protagonismo e autossuficiência, Segundo o texto, “Logo no século IV, as propriedades rurais adotaram a prática de suprir suas próprias necessidades de bens manufaturados, não através do comércio, mas do próprio fabrico”. Assim sendo os proprietários de latifúndios eram ainda mais importantes que anteriormente e constituíam a camada economicamente dominante da sociedade romana tardia tornando-se os mais pobres cada vez mais dependentes deles Pag.201. L.24

O autor ressalta que, apesar desse processo evolutivo se encontrar ligado à decadência do (Imperium Ramanum) não pode de modo algum ser atribuído exclusivamente a eles e a crescente pressão dos bárbaros, mas a causa ainda mais complexas, podendo as principais causas sociais serem incluídas no conceito de “ALIENAÇÃO” da sociedade romana em seu sistema estatal. Pag.201.L.31

 Para combater as dificuldades desse ultimo período da antiguidade só restava à monarquia imperial recorrer a uma política de força e de centralização, todavia, isso exigia um dispendioso aparelho de poder e, dada a escassez de recursos, o estado resolvia obrigando algumas categorias de trabalhadores a prestação de serviços e criando um complicado sistema fiscal exagerando na carga tributária o que fez alguns grupos da população a verem o estado como inimigo, até os proprietários de terra deixaram de se sentir representados pelo império. Pag.202.L.01

Segundo o autor, nos últimos tempos do Império o caráter despótico da monarquia acentuou-se, para os pagãos os imperadores continuavam sendo deus enquanto para os cristãos eles eram “governantes pela graça de Deus”, Mas não era essa diferença que afetava o caráter sagrado do imperador, mas sim a "infinita distancia que o separava de seus súditos”. O contato entre eles caracterizavam-se por um rigoroso cerimonial, muito influenciado por modelos orientais. Pág.202.Linha.14

Existia um imenso aparelho burocrático, conforme as reformas de Diocleciano e Constantino, o poder do imperador era garantido por mais de 435.000 homens, além de servidores privados do imperador, administração central e comandante militar administrativo como função no aparelho do estado. Eles tinham a missão de garantir a coesão do império e executar o sistema coercitivo de prestação de serviços e pagamento de impostos. Pág.202.Linha.27

O poder do império era sublinhado pelo fato do senado ter perdido sua importância. No século IV d.C, o regime encontrava-se forte para afirmar e manter a unidade do império, contudo a opressão exercida sobre algumas camadas da população levou a que se desligasse cada vez mais das raízes que o ligavam a própria organização social. (Pág.202.L.37)

O império com seu aparelho de estado tornaram-se assim (...). Um pesado fardo que oprimia a sociedade e ao mesmo tempo cerceava a evolução social. As migrações enfraquecia o Império que não mais podia proteger seus súditos do inimigo exterior. (Pág.203.L.03)

Nessas condições, diz o texto, as bases tradicionais da estratificação social do Império Romano Tardio tiveram que se alterar ainda mais do que no século III. Vejamos algumas características citadas pelo autor: (Pág.203.Linha.23)
* A diferença social entre os detentores do poder e os destituídos dele aumentou (Pág.203.Linha.34) .
* Poder real de grupos sociais condicionados a relação com o Imperador e não origem étnica (Pág.203.Linha.38) .
* Influencia de elementos da corte superior ao dos senadores vulgares (Pág.203.Linha.41).
* As pessoas mais influentes eram os membros do “Santo Consistorium” “Chefes mais altos do administrativo, generais e pelos mais privilegiados dignitários eclesiásticos”. (Pág.204.L02)
* Uso Obrigatório do vestuário adequado à categoria social a partir de lei do ano 382 em Constantinopla (Senatores, Milites, Officiales, Membros do aparelho administrativo civil e os servi).
* A partir de Constantino o Exercito passou a ser recrutado entre os Bárbaros principalmente Germanos. (Pág. 205L.01)
* Situação Jurídica Ganha Status Secundário * Cidadania Perde Importância * Diferença entre homens livres (Pobres) e escravo ganhou significado meramente teórico.
*Aumento significativo da origem pessoal na determinação da posição social
* Valorização de Capacidades Individuais (As estruturas governativas do Baixo Império Exigiam capacidades e méritos para ocupar cargos Burocráticos e na igreja).
 Aqui o autor afirma que a estrutura social do império nesse momento divergia bastante dos primeiros tempos e essa estrutura era muito semelhante a que se formou na crise do século III. (Pág.205 L32)

As Camadas Superiores
As Camadas Inferiores

A Sociedade Romana Tardia e a Queda do Imperium Romanum “Quem entre os Ricos não se esforça por expulsar o pobre da sua pequena propriedade, expulsar o necessitado do bocado de terra que herdou?... Os pobres são assassinados todos os dias”.
Ambrósio.

Esse questionamento de Ambrósio (Arcebispo de Mediolano um dos mais influentes membros do clero no século IV), reflete a situação de pobreza, falta de liberdade e opressão vividas pelo povo romano na eminência da queda do império. Pág.223.
A pobreza falta de liberdade e opressão sempre foram características de Roma em todas as épocas, todavia no final do império foram agravadas e a miséria e penúria atingiram camadas mais vastas.
Até mesmo as camadas superiores a partir do século III se viram relegados a um nível econômico e social e político próximo aos das camadas inferiores
Nesse período a camada populacional que vivia bem era restrita as tensões sociais eram fortes.
O Movimento de resistência rural mais generalizado foi o movimento “Agonístico” cujos participantes eram chamados “circumelliones” esses se juntaram também a colonos e escravos fugitivos, configurando-se em um forte movimento religioso e social que se dirigiam contra os ricos e, sobretudo contra a Igreja Católica. Pág.224L.19.

As causas das agitações nas cidades eram muitas: Escassez de: trigo, vinho (devido às más colheitas as dificuldades de transporte), conflitos políticos e corrupção. Em 356 a prisão de um condutor de carros muito popular gerou onda de ódio. A eleição de um Papa em 366 desencadeou motim. A deposição do Bispo Basílio pelo imperador Valente, a qual o povo era a favor do Bispo e Aumento de impostos. Todavia todos esses protestos, segundo o autor tinha uma única origem, as tensões sociais nas cidades causadas pela pobreza e a repressão brutal do estado. Pág.224L.37

O texto diz ainda que uma verdadeira revolução das massas rurais, naquele contexto era impossível (...), mesmo com todos esses motins e revoltas, segundo ele, nem a decadência do sistema de governo romano, nem a transição do sistema social do antigo para o medieval eram suficientes para isso. A ligação servil das massas de colonos aos grandes proprietários de terra não sofreu alterações, o objetivo dos colonos e dos escravos fugitivos não eram a formação de grupos para a luta contra os proprietários de terras, eles simplesmente fugiam de uma propriedade para outra na esperança de serem tratados de maneira melhor pelo outro senhor Pág.225L.29

Não havia, porém, (...) uma classe revolucionária homogênea, os diferentes grupos sociais tinham interesses diversos. As revoltas representaram um papel secundário no processo de dissolução do sistema de governo romano. A decadência do império romano do ocidente foi assim um processo cujo significado (...), não reside nas revoltas das camadas inferiores contra o sistema de governo apoiado pelas camadas superiores, mas no fato de a organização estatal de Roma se apoiar apenas numa camada, cada vez mais restrita do seu próprio aparelho, acabando por se tornar uma sobrecarga para toda a sociedade. Pag.226.L1

Apesar de Roma não se configurar em uma sociedade de castas, o sistema social era estático o que impunha aos comerciantes, colonos, entre outros o exercício compulsivo de uma profissão além da hereditariedade também compulsiva das posições sociais. No Tempo de Valentiniano III (424-455), fechou-se uma das poucas portas permitidas de ascensão social foi proibido que colonos escravos e comerciantes exercessem cargos eclesiásticos. Todavia, era possível ascender socialmente, essas restrições, não impediam que elas ocorressem na prática, inclusive, em clara contradição, no próprio aparelho do estado e no exército. (Pag 227, Linha 34).

 Havia ainda outros fatores de alienação da população em relação ao estado, assim como informado anteriormente as grandes propriedades de terra tornava-se cada vez mais independente e autossuficiente política e economicamente dentro do estado. O proprietário Rural Vivia em seu Latifúndio e ali na prática exerciam um poder absoluto, como por exemplo, julgar colonos ou nomear juízes para esse feito, com poder para penalizar inclusive com pena de morte. Pag.228.L6.

Principalmente a partir do século IV d.C, os grandes proprietários apoiavam-se cada vez mais em seu pessoal para resistirem inclusive aos ataques bárbaros, por vezes, aponta o autor, esses exércitos particulares combatiam com mais êxito que as tropas regulares, a única ligação entre essas grandes propriedades e o poder central se dava através das obrigações fiscais. Pag.228.L25

A alienação da população em relação ao império foi reforçada pelo chamado movimento dos patrocínios, que era uma forma de evasão ás injustiças e a sobrecarga fiscal por alguns camponeses independentes, colonos e até habitantes de aldeias inteiras, Citando Salviano (escritor cristão do século V) o autor explica como funcionava o (Patrocinium). (Pág.228L.37

Os indivíduos colocavam-se sob a proteção (Patrocinium) de uma pessoa influente do exército, administração civil ou de grandes fazendeiros a quem em troca entregavam primeiro com presente, depois com pagamento regular, produtos agrícolas ou dinheiro. Tratava-se de uma comunhão de interesses entre as partes que eram contrários aos interesses do estado. Pág. 229. L. 1

O Estado tentou "por cobro" ao movimento a partir de 368 d.C, a medida, assim como vários outros decretos não conseguiu deter o avanço dos “patrocinium” que acabou sendo legalizado em 415 d.C. O que significava que nem só a população das grandes propriedades, mas, toda a população dos distritos se "libertava" assim do sistema de governo imperial, chegando a haver numerosas comunidades urbanas que procuravam proteção através de processos semelhantes. Pág.229.L.10
O alastramento dos “patrocínios” teve para a monarquia imperial consequências piores que as revoltas isoladas, como o pagamento dos impostos “falhasse com frequência” (pag. 229. L 29), as fontes para manutenção do aparelho do estado estavam ameaçadas, foi necessário aumentar a tributação onde o sistema ainda funcionava, aumentando o descontentamento. Pág.229.L.27.
Mas houve círculos muito vastos, que tinham uma perspectiva diferente da visível decadência da odiada monarquia imperial. Preferiam viver sob o domínio dos Bárbaros, pois, nos estados territoriais germânicos o sistema de governo baseava-se em formas de dependência feudal e não num aparelho de poder opressivo e num sistema fiscal estatal. Pág.230.L.06
 Ao passo que crescia o numero de Romanos fugindo para territórios Bárbaros. Salviano (escritor cristão do século V), escreveu: "Procuram-se entre os Bárbaros a humanidade dos romanos, pois não conseguem suportar entre os Romanos a desumanidade Bárbara”. Pág.230.L.16
 Não só as forças destinadas a deter os bárbaros encontravam-se enfraquecidas como os próprios romanos se habituaram a considerar os bárbaros como um mal menor em comparação com o sistema estatal romano vigente, assim, segundo o autor, o império se viu obrigado a não só tolerar a fixação dos bárbaros em seu território, mas a também promovê-la em seu próprio interesse e assim, e conclui afirmando que agindo assim Roma cavara sua própria sepultura. Pág.230L.19
Vastas regiões do império ficaram desertas, pois uma parte da população fugiu para as grandes fazendas no regime de “patrocinium” e a outra parte fugiu para os territórios bárbaros.
Ambrósio escreveu: A morte era um destino comum, não só dos homens como também das cidades e das áreas rurais.
Com o agravamento do problema o império, na passagem do século IV para o V passou a promover a instalação de bárbaros nessas terras.
Outro problema era com o exército. Gradualmente tornou-se proibido o alistamento a todos os grupos populacionais e, também nesse caso, foi necessário recorrer aos bárbaros que ou integravam o exercito romano de maneira regular ou, como passou a ser usual, a partir do século IV, eram contratados, no regime de confederados (foederati), organizados em grupos de guerreiros da “própria raça”. Pág.230L.37
A instalação de grupos Germânicos no império destruiu a infraestrutura existente do sistema de governo imperial, todavia a coexistência da população romana e germânica funcionava ao contrario do que se podia esperar, em função das diferenças culturais e linguísticas, sem grandes atritos.
O sistema de valores religioso e ético comum a romanos e bárbaros, o cristianismo, contribuiu decisivamente, no século V, para a aceitação dos Germanos pela população local, o cristianismo não provocou segundo o autor a decadência do sistema de governo romano, segundo ele, o patriotismo dos romanos cristãos, de maneira geral, não era inferior ao dos contemporâneos pagãos. Pág.231L.31
O papel do Cristianismo na decadência de Roma Ocidental resultou mais do fato de ter sido adotado e seguido também pelos germanos. “Anteriormente o sistema de valores da sociedade Romana tinha sido o “Mos Maiorium” costume dos ancestrais” que erguera uma fronteira intransponível entre romanos e não romanos.
Agora os romanos cristãos partilhavam com o bárbaro cristão a sua religião e sua ética, os bárbaros em função da cristianização já não era mais inimigos (Hostes), mas, irmão (Fratres), segundo a visão de Orósio, historiador e teólogo, Romanos e Germanos, viveriam em conjunto, em seu sonho era um império cristão e seu futuro estava na constituição de estados territoriais governados por germanos, chamado: A ROMANIA. (Roma + Germânia)
A estrutura da sociedade não se modificou, pelo contrário, foi reforçada pelo alastramento de formas de dependência de tipo feudal entre os grandes proprietários e vastos grupos da população. O antigo enquadramento político tornou-se cada vez mais anacrônico devido a essa evolução, até que se desagregou.
Os Hunos foram inimigos implacáveis dos Romanos, Esses conflitos viriam culminar com as ações de Átila, o mais famoso rei Huno, a batalha mais importante entre esses impérios foi ocorrida nos “Campos Catalaúnicos)” em 451 d.C, essa batalha foi vencida por Roma e seus aliados, mas Átila "e seu soldado Orestes" sobreviveram e ainda causou muitos prejuízos a Roma, justificando se apelido de praga oi flagelo de Deus. Há ainda a narrativa de que ao atacar Roma em outra ocasião, tendo como pretexto tomar a mão da irmão do imperador em casamento, Átila só parou diante da intervenção do papa Leão, fazendo-o recuar e parar com os ataques. (Wikipedia)
O fim da antiga estrutura política foi assinalado pela morte de Orestes, General do Exército Romano e a deposição do “último imperador do ocidente”, seu filho Rômulo Augusto, pelo chefe mercenário germânico Odoacro no ano de 476 d.C.
Em 474 d.C o Imperador do Oriente Leão I, envia Júlio Nepos (Sobrinho em Latim), marido de sua sobrinha, para render Glicério (Eleito pelos Germânicos em 473 d.C), sem o choque militar, Nepos depôs Glicério nomeando-o bispo de Salona na Dalmácia. Uma vez Imperador do Ocidente, Nepos Em 475 d.C, nomeia Flávio Orestes “Magister Militum”, espécie de auto General, (Orestes tinha origem bárbara, mas educação romana), nesse mesmo período, Odoacro, também bárbaro cujo pai a exemplo de Orestes, tinha Servido ao Imperador Átila “O Huno”, era líder de uma milícia Bárbara que servia ao Império. Nepos envia Orestes á Gália (?), Orestes não cumpriu a ordem e volta a Ravena a procura o Imperador Nepos e não o encontra, Nepos foge para a Dalmácia (Continua a Reinar?). Em Ravena Orestes Nomeia se filho Romulus Augustus que tinha idade entre 15 e 18 anos, no entanto alguns grupos de mercenários Bárbaros que eram pagos pelo Império exigiu terras dentro do território do Império, Orestes não aceitou, esses grupos aliaram-se a Odoacro para lutar e matar o regente imperial Orestes. Todavia poupou a vida do seu filho, o “imperador” Rômulo Augusto. Assim, o Bárbaro Odoacro tornou-se rei, marco que a historiografia localiza como fim do Império Romano Ocidental.

O autor conclui apontando semelhanças entre a crise que levou a queda da República (27 a.C), com a que pôs fim ao Império (476 d.C), segundo ele, tanto em caso quanto no outro as estruturas básicas da organização social vigente não se modificou e apenas ruiu um sistema político obsoleto. Enquanto sobre as ruínas da República se ergueu um novo sistema estatal tão romano quanto o anterior, após a queda do império Romano do Ocidente o papel deste coube a novos Estados.
O historiador húngaro Géza Alföldy, foi um gigante intelectual, que gostava de reunir estudantes ao seu redor para discutir documentos de forma exaustiva, mostrando todas as dificuldades na sua interpretação, todas as possibilidades e tudo o que eles ofereciam. Alföldy faleceu de um ataque cardíaco durante uma visita à acrópole, em Atenas: Uma partida “Conveniente” para a de alguém tão interessado em antiguidade.
Fontes:
 A Historia Social de Roma (Géza Alföldy).
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Pesquisa e Organização: Alan Cardoso

Estudante de Licenciatura em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).